Deus é Amor

INTRODUÇÃO

Com a entrada do século XXI, o mundo viu mudanças gigantescas e infelizmente uma onda de intolerância que gera desde problemas familiares até guerras entre países. O que ocorre frequentemente é que as pessoas estão buscando cada vez mais Deus, mas não em sua essência, e sim como solução para problemas pessoais. Certamente Deus quer ver cada um de seus filhos felizes e Ele sabe as necessidades de cada um, entretanto, Ele espera desses seus filhos, pelo menos, o reconhecimento do dom da vida, reconhecimento que, para Deus, só pode vir na forma de amor. Este amor só pode ser encontrado na Bíblia através dos ensinamentos iniciados por Jesus Cristo e continuados pelos apóstolos.        
Apesar da palavra “amor” designar, com efeito, muitas realidades diferentes, carnais e espirituais, passionais ou refletidas, graves ou ligeiras, libertadoras ou destruidoras, o amor só pode ser amado se for amado em plenitude. Ninguém ama pela metade, ou parcialmente.
"Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele" (1 Jo 4,16). Por meio destas palavras, João exprime, com singular clareza, o centro da fé, e também a imagem do homem e do seu caminho. Isto porque, confessar que Deus é amor, e acreditar neste amor, implica em reconhecer-se como participante deste "amor que vem de Deus" (1 Jo 4,7). Apesar da primeira Carta de João ser amplamente conhecida, e sua leitura comum nas comunidades, seu conteúdo tem sido mais discutido teologicamente, do que levado à práxis. O amor de Deus pela humanidade é uma questão fundamental para a vida e coloca questões decisivas sobre quem é Deus e quem somos nós. Durante toda a história da Igreja, teólogos, em todos os séculos, discutiam o mistério da Trindade. Concluíram que Deus é Amor, como afirma a primeira Carta de João, porém, deixaram uma lacuna. O homem sendo imagem de Deus, e Deus sendo amor, o homem também é imagem do amor? Se partirmos do pressuposto de que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança (Gn 1,26), podemos reconhecer que o homem é, portanto, imagem e semelhança do Amor. Entretanto, qual é o papel da humanidade sendo imagem e semelhança de Deus? Que alterações essa concepção trás na vida dos fieis? Qual é o papel  da humanidade sendo imagem e semelhança de Deus-Amor?
Apesar de sermos “imagem e semelhança” do Amor, continuamos a ver a intolerância reinando sobre o mundo. Certamente o que surge na mente de cada um é como não estamos vivendo o amor; talvez até amemos alguns mais queridos, ou homens de bem, mas não vivemos o amor em sua plenitude. Por falta dessa plenitude que a intolerância cresce, por nossa negligência ou até por falta de conhecimento, pois muitas vezes o que julgamos ser correto talvez não esteja dentro do mandamento do Amor. É somente através da leitura da Bíblia e da própria experiência de amar, que podemos compreender a plenitude do Deus-Amor.

1 Conceitos gerais sobre o amor
Ao longo dos séculos, teólogos investem em debates sobre o tema da caridade e suas inúmeras possibilidades no contexto social. Desde a Igreja Primitiva e ao longo dos séculos, a prática da caridade tem sido recomendada com grande insistência, porém, nos parece que conhecemos e vivemos muito pouco o sentido profundo da caridade cristã. A tradição cristã, desde os seus primeiros teólogos, afirmou a inseparabilidade da caridade e da fé, na medida que cobrava com rigor à justiça para com os pobres. O cristianismo, que teve sua origem em tempos de profunda crise econômica, social, política e cultural, tem uma interessante contribuição para uma espiritualidade vigorosa e, paradoxalmente, carregada de ternura, capaz de ajudar o ser humano não só a enfrentar os desafios da crise, mas também a humanizar-se em plena crise. A Boa Nova de Jesus Cristo é inequívoca em suas exigências éticas. Conhecer e amar são aspectos inseparáveis da atitude cristã. A transitividade intrínseca do amor traduz-se em ação fraterna no seio da comunidade cristã e em justiça, no instante da ação política do cristão na sociedade. A Igreja de Cristo estruturou-se como comunidade fraterna, onde a celebração da partilha do pão se fixava com seu mandamento fundamental: a vivência do amor.
A palavra "caridade" trás em si uma grandeza extraordinária no seu gênero, que ora serve como sinônimo de amor, ora vai além. "Caridade" é uma palavra que provém do latim, carus.  O termo latino expressa a ideia de "grande valor", algo fundamental que se torna virtude à medida que  o ser humano é capaz de impulsionar a vontade pessoal a agir em prol do bem. No latim bíblico a palavra caridade alude ao sentido da palavra grega agápe, que significa "amor". Aqui, a palavra "agápe" transliterada do grego, tenta recuperar seu sentido cristão específico, pois a palavra "ágape" comumente usada, já tem o significado de "refeição que os primeiros cristãos tomavam em comum". E mesmo neste sentido, de “refeição comum” onde percebemos a extensão do ágape em sua preocupação com o "comum".
O grego, em sua riqueza linguística, usava três verbos para expressar a palavra amor: eran, philen e agapân.
Eran, do qual deriva o substantivo eros, indica essencialmente o amor passional, o amor desejo, o amor paixão.
O verbo philein, expressava o conceito de amizade e designava o amor desinteressado por alguém.
Agápe deriva do verbo agapân que tem significados muito mais vagos, entre os quais o mais característico é o de predileção, preferir, ter alguém em grande consideração. Pode ser traduzido, por tanto, pela expressão "demonstrar afeto". Quando passou para a linguagem do Novo Testamento, o termo agápe (do qual derivou o termo latim charitas)  adquiriu um sentido novo imensamente rico: passou a expressar toda a plenitude da revelação cristã, da nova relação que a mensagem de Cristo estabeleceu entre um ser humano e outro. O amor de Deus e o amor ao próximo são, com efeito, na mensagem cristã, dois aspectos do mesmo agápe. Assim quando na Primeira Carta de João (1 Jo 4,16) lemos "Deus é amor", lemos em latim "Deus caritas est". De fato, o termo charitas,  na maioria dos casos, é utilizado quando o agápe expressa em seu mais alto nível o conceito de amor. Desta forma, "caridade" e "amor" se fundem num profundo significado, cujo o verdadeiro sentido não se encontra em teorias, mas na prática. O "amor cristão" torna-se um "amor caridoso" que procura dar assistência ao próximo ao qual ele está intimamente ligado por um sentimento de afeto.

1.1 Deus é amor
            Nas Escrituras, caridade e amor são palavras praticamente sinônimas. Na história cristã, "caridade" esteve quase sempre relacionada a gestos de um paternalismo assistencial. Isto é, a caridade não se restringe a um sentimento, mas a pratica desse sentimento de afeto por meio de gestos como a acolhida. "Amor", por sua vez, é hoje um termo muito ambíguo, chegando mesmo a confundir-se com erotismo ou com expressões de egoísmo. O amor de que falamos é a própria essência de Deus, o amor-agápe, que por sua vez tornou-se caritas  em latim.
            O amor de Deus por nós é questão fundamental para a vida e coloca questões decisivas sobre quem é Deus e quem somos nós. No entanto, para compreender a essência do amor divino, o homem precisa purificar suas concepções completamente humanas que tem do amor, e assim aceitar o mistério do amor divino.
            Qualquer tentativa humana de entender Deus-amor, pode correr o risco de ser reducionista, isto é, reduzirmos Deus a uma concepção humana de amor. O ser humano nasce carente e dividido. Na fraqueza física e psicológica, necessita ser cuidado com muito amor para ir construindo-se como ser capaz de amar. Ser amor NÃO é a natureza dos humanos, mas se desenvolve à medida que bebemos da fonte desse amor. Assim, somos capazes de amar quando somos amados.   Ao contrário de nós, Deus é puro e só amor. Não depende de nada e ninguém para amar. Ele é o próprio amar. Tudo nele é efetivamente amor. O amor de Deus é unilateral, gratuito, anterior, proveniente, generoso, sem precisar de reforço e resposta de nossa parte. Deus é a fonte infinita e primária do amor. Ele não nos fez, porque se sentia sozinho, ou precisava de nosso amor para se engrandecer. Deus fez a humanidade para com ela comungar do seu amor, fazendo-nos dependentes desse amor.
            O amor é mais que um sentimento humano de afeto, é um sentimento congênito (Gerado simultaneamente) transcendente (Que transcende do sujeito para alguma coisa fora dele) e imanente (Que está compreendido na própria essência do todo) que aproxima em um estado de comunhão tanto o Criador de sua Criação, isto é, Deus X Homem, quanto a Criação da própria Criação, Homem X Homem. O amor é também uma decisão de agir em favor de outro, como quando Paulo escrevendo aos Romanos diz: “Deus dá prova de seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, quando ainda éramos pecadores.” (Rm 5, 8) O amor ainda que congênito, só encontra sua plenitude em Deus, a própria fonte, que continua a jorrar seu amor em nossos corações através do Espírito Santo (Rm 5, 5; Jo 4, 13-14). Esse amor que jorra de Deus é o selo que nos une mais intensamente, tanto ao Criador quanto as criaturas. Por isso, em Romanos Cap. 8 v-v. 35, Paulo apresenta o amor manifestado em Cristo, afirmando aos cristãos que nada devem temer, pois esse selo é eterno e onipotente, pois “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes, nem as coisas presentes ou futuras, nem as forças, nem a altitude, nem a profundeza, nem outra criatura qualquer poderá nos separar do amor que Deus nos manifesta em Cristo Jesus, Senhor Nosso.” (Rm 8, 38-39).
            Esse Deus fonte de amor, também ama pessoalmente. O seu amor é um amor de eleição, que entre todos os povos ele escolhe Israel e ama-o - mas com a finalidade de curar, precisamente deste modo, a humanidade inteira. A história de amor de Deus com Israel consiste, na sua profundidade, no fato de que Ele dá a Torah, isto é, abre os olhos a Israel sobre a verdadeira natureza do homem e indica-lhe a estrada do verdadeiro humanismo. Os relatos do Gênesis e do Êxodo e de toda a Bíblia mostram o amor como motivo divino da criação e da libertação do povo. E, se para o povo judeu a expressão privilegiada desse amor é a libertação do Egito e toda sua caminhada com Deus através do deserto, para os cristãos a revelação máxima dessa essência ativa e dinâmica de Deus é Jesus Cristo. Em sua vida e em seus gestos históricos salvíficos a agápe de Deus se faz carne numa entrega de si mesma (cf. Jo 3,16 e Rm 8,32).
            João no evangelho fala da intimidade entre o Pai e o Filho. Como grande perfeição, o Filho é a imagem fidelíssima do Pai, e quem vê o Pai vê  o próprio Filho (Jo 14,6-7). Este mesmo Filho é o Verbo encarnado (Jo 1,14) e próprio amor encarnado. "Eis como reconhecemos o amor: ele entregou sua vida por nós" (1 Jo 3,16). Nessa perspectiva, Jesus ama os discípulos com o amor que o Pai tem por ele (cf. Jo 15,9); o Pai ama o Filho e põe todas as coisas à disposição dele (cf. Jo 3,35). O Filho, por sua vez, mostra seu amor ao Pai pela sua obediência (cf. Jo 14,31). E nós, participamos desse amor,quando amamos ao Filho, ao Pai e ao nosso próximo. Com efeito, ninguém jamais viu a Deus tal como Ele é em Si mesmo. E, contudo, Deus não nos é totalmente invisível, não se deixou ficar pura e simplesmente inacessível a nós. Deus amou-nos primeiro – diz a Carta de João citada (cf. 4,10) – e este amor de Deus apareceu no meio de nós, fez-se visível quando Ele “enviou o seu Filho unigênito” ao mundo, para que por Ele, vivamos (João 3,16). Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com amor.

1.2 Jesus, o amor-encarnado.
            Desde que Jesus começou sua pregação por volta do ano 30 da era cristã, este Jesus de Nazaré, cidade da Galiléia onde foi criado, arrastou em tono de si multidões. Numa atitude incomum em seu tempo, Jesus dedicou igual atenção às prostitutas, aos adúlteros, ladrões, e à odiada categoria dos cobradores de impostos, símbolo da dominação romana sobre  a Palestina.  Tinha Jesus, grande afeto pelos marginalizados,  que, pode ter sido um dos motivos para reunir em torno de si multidões, já que a Judéia estava repleta de marginalizados. A Judéia, por sua vez, era uma província turbulenta, sob o domínio romano, que se destinava a governadores de baixa categoria, como Pôncio Pilatos, presente na crucificação de Cristo.
            Procedente do Norte rural de Nazaré, Jesus chegou à Judéia onde reuniu em torno de si uma comunidade de discípulos, um círculo reduzido com a missão especial de proclamar a chegada do reino de Deus sobre a terra, manifesta em sua própria presença e em seus ensinamentos. Os primeiros discípulos eram judeus devotos, que estudavam as figuras e imagens do Antigo Testamento, sobretudo a cerca do Messias, "Ungido" por Deus, Christos em Grego. Jesus se autoproclamava o Ungido de Deus, em certas frases se autointitulava o Filho de Deus. Os discípulos logo o reconheceram como o messias anunciado em textos do Antigo Testamento (como Isaías 53), e passaram a seguir seus ensinamentos, chamando-o de Rabi (mestre). O próprio Jesus sendo judeu, nunca negou e opôs à Lei Judaica, pelo contrário, ele mesmo disse que não veio para "revogar a Lei ou os Profetas", "mas levá-los à perfeição" (Mt 5,17). Contudo, o alto clero saduceu, via uma incompatibilidade nas tradições da Lei, com os ensinamentos de Cristo. Enquanto que a lei dizia  "amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo", Jesus dizia "amai os vossos inimigo e intercedei por aqueles que vos perseguem" (Mt 5,43-44).  Esta e outras divergências culminaram com a crucificação de Jesus no monte chamado Gólgota. Mas sua morte não foi o fim, porque no terceiro dia ressuscitou como ele próprio havia predito, e cujos textos do Antigo Testamento diziam a respeito do Messias (Lc 24, 25-27). Com sua ressurreição, Jesus Cristo não só prova a sua divindade, quanto preenche de certeza seus discípulos a respeito da crença na vida eterna. A ressurreição de Cristo, portanto, torna-se o alicerce e o combustível dos primeiros cristãos a "evangelizarem" o mundo inteiro com a boa-nova, missão dada pelo próprio Cristo Ressuscitado em sua ascensão aos céus (cf. Mc 16, 14-20).
            Certamente a figura histórica de Jesus, por si só, chama atenção de milhares de pesquisadores. João, em seu evangelho e suas cartas, se propõe desvendar para os cristãos onde residia o segredo maior de Jesus: ser Filho que vive em comunhão com Deus Pai e que assumiu a carne para habitar entre nós. “Ele, embora subsistindo como imagem de Deus, não julgou como um bem a ser conservado com ciúme sua igualdade com Deus, muito pelo contrário: ele mesmo se reduziu a nada, assumindo condição de servo e tornando-se solidário com os homens” (Fp 2,5-7). Ao reconhecermos Jesus como Deus-encarnado, sendo Deus-amor, podemos concluir que Jesus é o amor-encarnado?
             Para saber em que consiste o amor de Deus, é necessário conhecer Jesus, sua vida, seus ensinamentos, sua proposta. Suas muitas palavras e parábolas revelam sua maneira de agir, que é o “espelho” do Ser do Pai. Todos os atos de Jesus dão testemunho do amor do Pai (Jo 8,28); se ele cura, cura porque ama, se tira os pecados, perdoa porque ama e quer a Salvação daquela pessoa. Quando é criticado por seus gestos de compaixão, Jesus responde: “prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Mt 9,13).   À vista dos homens, sua vida é toda doada, não somente a alguns amigos, mas a todos, pois passa fazendo o bem no desapego total e dando atenção às multidões, inclusive, e sobre tudo, aos mais desprezados e aos indignos. Jesus Cristo é, na concepção cristã do século I, o revelador do amor de Deus: “Nisto se manifestou o amor de Deus por nós: Deus enviou o seu filho único ao mundo para que vivamos por ele” (1 Jo 4,9).
            Jesus não é apenas o “espelho do Pai”, e sua vida não se reduz a refletir o “amor do Pai”. Na concepção joanina, Jesus é o próprio amor (cf. 1Jo 3,16) que dá sua vida por nós. Em tudo Jesus se fez semelhante aos homens, exceto no pecado, e é pelo fato, de ter assumido a condição humana que Jesus demonstra que é possível vivenciar o mandamento do amor “amai-vos uns aos outros assim como Eu vos tenho amado” (Jo 15,12). Ele próprio é a medida do amor, medida pela qual Deus Pai encontra satisfação (cf. Mt 3,17).

1.3 Discípulos do Amor
            O Novo Testamento reserva o nome de discípulo àqueles que reconheceram Jesus por seu Mestre. Primeiro mencionam-se os Doze e depois todos aqueles crentes que conheceram ou não Jesus durante sua vida terrestre. Embora aparentemente fosse igual aos doutores judeus de seu tempo, Jesus tinha para com seus discípulos exigências únicas. Jesus não exigia aptidões intelectuais nem mesmo morais. Jesus pedia apenas a adesão ao seu chamamento (Mc 1,17-20) que, por trás, era o do Pai, que “dá” a Jesus os seus discípulos (Jo 6,39; 10,29; 17, 6.12).
            O chamado de Jesus Cristo a cada apóstolo representando, sobretudo, o chamado a cada cristão, nos apresenta a imensa responsabilidade que se adquire ao seguir os passos do Grande Mestre. Aos discípulos, Cristo pede total dedicação, tal, que eles precisam largar ouro, prata e tudo aquilo que os impedem de se dedicarem exclusivamente (Mt 10, 9) a pratica do amor, “pois é pelo fato de vos amardes uns aos outros que todos conhecerão que sois meus discípulos” (Jo 13 ,35). O seguir dos apóstolos não é obrigação, é demonstração de amor, pois assim como Jesus dedicou amor igual aos que fazem a vontade do Pai (Mt 12,50), ele exige de seus discípulos a mesma medida,a ponto de largarem tudo (como ele próprio fez) para o seguirem (Mt 10,37). Jesus não oferece recompensa imediata e terrena a ninguém, e ainda reforça que “no mundo tereis aflições. Vós tereis de sofrer no mundo. Mas tende coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16, 33). Portanto, o sofrimento de Cristo é Sua vitória, e Sua vitória é nossa esperança, e a esperança é garantia de nossa recompensa (Rm 5,3s): um lugar no Reino dos Céus. As inúmeras parábolas demonstram que para o seguimento de Cristo é preciso dedicação e abnegação, esta última negligenciada nos dias de hoje, mascarada por um “cristianismo consumista” que busca saciar-se dos frutos (graças) oferecidos por Deus, como Ele mesmo afirmou: “vós me procurais, não por causa dos sinais que vistes, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Trabalhai não pelo alimento que se estraga, mas pelo alimento que dura até a vida eterna”.
            De acordo com o evangelho de João, antes de Jesus se manifestar publicamente, antes do primeiro milagre, André irmão de Simão Pedro ouviu o testemunho de João Batista e seguiu Jesus (Jo 1,  40-42). André apresentou Jesus como Messias a seu irmão Simão Pedro que não esperou que Jesus se manifestasse, apenas creu no testemunho de seu irmão. O exemplo de André e Pedro demonstra exatamente que o seguir Jesus depende unicamente da fé, sendo assim, a fé vem antes das obras.
Filipe foi o primeiro a seguir o chamado direto de Jesus Cristo (Jo 1, 43-44), entretanto, mesmo não tendo visto nenhum sinal acreditou e o seguiu indo além, chamando Natanael a também seguir o Cristo. Temos o exemplo daquele que creu por que foi chamado e crendo foi testemunha.
Natanael, porém, não crendo de imediato, muito incrédulo, foi ao encontro de Jesus, não pela fé, mas por ouvir o convite de Filipe. Entretanto, ao ouvir as palavras de Jesus a seu respeito, creu. Ele teve fé nas coisas pequenas, como afirmou Cristo: “crês somente porque afirmei que te vi debaixo da figueira? Verás ainda coisas maiores”. (Jo 1,50).
Concluímos, portanto, que há pelo menos três tipos de pessoas que aderem à fé em Cristo: os que creem no testemunho dos outros (André e Simão Pedro), os que creem porque tiveram um encontro com Cristo ainda que sem sinais (Filipe) e os que precisam de sinais, ainda que pequenos para crerem (Natanael).
Assim, ninguém segue Cristo por si só, mas somente aqueles chamados na fé (Jo, 14,6). Seguir Jesus se trata de uma ruptura total, que faz de seus discípulos privilegiados. Seguir Jesus é calcar sua conduta na dele, ouvir suas lições e conformar a vida com a do Salvador (Mc 834s; 10,21.42-45; Jo 12,26). O discípulo de Jesus está portanto chamado a partilhar do próprio destino do Mestre: levar sua cruz (Mc 8,34) beber seu cálice (Mc 10,38s), receber enfim dele o Reino (Mt 19,28s.) Por isso, já desde agora, quem quer que lhe dê um simples copo dágua na qualidade de discípulo não perderá sua recompensa (Mt 10,42).
            A preocupação de Jesus com seus discípulos, não está nos seus ensinamentos, mas na responsabilidade que os discípulos têm de praticá-los. Os ensinamentos de Jesus se baseiam na Lei do Amor, cujo o píncaro é o mandamento “amai-vos uns aos outros assim como eu vos tenho amado” (Jo 15,12). Os discípulos conhecem Jesus, e o reconhecem, por consequência conhecem o Pai (Jo 14,7). O Pai é amor, e Jesus imagem fidelíssima do amor. Jesus não exige grandes provas de fidelidade de seus discípulos, ele só exige a observância de seus mandamentos, isto é, amar uns aos outros (jo 13,34). A própria observância do mandamento, já é por si só um ato de amor (Jo 14,21). A Pedro, Jesus pergunta três vezes: “Tu me amas?”. O amor de Pedro por Jesus, é o mesmo que ele deve ter pelas ovelhas de Cristo (Jo 21, 15-17), pois Jesus, “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até a consumação” (Jo 13,1), isto é, o amor de Cristo por seus discípulos foi ao extremo, e é esse mesmo extremo que Cristo pede aos seus, pois “é pelo fato de vos amardes uns aos outros que todos conhecerão(...)” que são discípulos de Jesus (Jo 13,35).

1.4 O amor, via de Salvação.
            Sabemos que o anúncio do "evangelho" se deu primeiramente por via oral, onde a ressurreição era anunciada primeiramente. A Ressurreição de Cristo é o ponto central da fé cristã, porque, quem nela não crê, dela não participa (Jo 11,25). Paradoxalmente, a ressurreição é também a fonte de esperança do cristão, pois se ele espera com impaciência a transformação final de seu corpo de miséria em corpo de glória (Rm 8,22s; Fp 3,10s.20s.),  é porque ele já tem as garantias desse estado futuro (Rm 8,23). Tendo Jesus sido crucificado, Deus o ressuscitou e por ele trouxe a nós a salvação. Esse é o ensinamento de Pedro aos judeus (At 3,14s) e sua confissão diante do sinédrio (4,10), o ensinamento primordial dos primeiros cristãos. Tendo o Pai entregue "Seu Filho Único" (Jo 316), a ressurreição do Filho do Homem, sela o amor de Deus pela humanidade, pois Jesus "ressuscitou dos mortos como primícias do que morreram. Porque a morte veio por um homem e  ressurreição dos mortos veio por um homem também. Como todos morreram em Adão assim reviverão todos em Cristo" (1 Co 15,20-22). Jesus se torna a porta (Jo 10,9) de acesso a Paraíso, ao Reino de Deus (Sl 118, 19-20).
            O tema da Salvação permeia toda a Bíblia. A questão da Salvação está em Gênesis, na própria criação do homem. Deus, o Criador de tudo, nos fez seres puros  (Gn 1,31) a sua "imagem e semelhança" (Gn 1,26), isentos de qualquer pecado, mas não incorruptíveis. Sendo puros, não havia pecado em nós até que Adão e Eva desobedeceram a Deus e pecaram comendo do fruto proibido. Com o pecado, o homem já não mais era puro, como Deus, porque em Deus não há pecado. Sendo o homem pecador, já não havia mais lugar para ele no Paraíso, na presença imaculada de Deus, assim foi expulso do Paraíso. Um dos primeiros sintomas do pecado estava no fato deles não conseguirem se manter diante da presença de Deus (Gn 3,8). Em seguida, quando Deus questiona Adão e Eva, ambos procuram se justificar, ao invés de se lamentarem e pedirem perdão (Gn 3, 11-13). O pecado, portanto, destruiu toda a paz e harmonia, gerando os primeiros conflitos e tensões generalizadas entre o Homem e Deus, entre o homem e a mulher, entre o Homem e as criaturas. Desde então, foi negado a humanidade o acesso ao Paraíso e a Árvore da Vida (Gn 3,23s), e  principalmente a perda da intimidade divina. A partir de então a Salvação se torna o futuro retorno da humanidade ao Jardim Celeste, onde está a árvore da vida (Ap 22,2).
            A grande Mensagem de Deus é  História da Salvação. Desde quando Deus se inseriu na história humana com a vocação de Abraão "a fim de fazer dele um grande povo" (cf. Gn 12, 2-3), de modo especial, houve a Promessa da Salvação e de um futuro Salvador. Para isso, ensinou, por meio de Moisés e dos profetas, a reconhecê-lo como único Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e justo juiz, e a esperar o Salvador prometido. Assim, escolheu um Povo e com ele fez uma Aliança. A Aliança ratificada pelo Povo no Sinai, é a prefiguração da "Nova Aliança" anunciada por Jeremias (31,31) que se cumpriu na "Santa ceia", mediante o cálice do sangue de Cristo derramado por todos nós (Lc 22,20). Esta Nova Aliança, é portanto, a participação do corpo e sangue de Cristo, via pela qual encontramos a Salvação.
            Participar do corpo e do “corpo” e do “sangue” é fundamental para o cristão. Paulo noz fala do “corpo de cristo” (1 Cor 12,27) como a Igreja, sendo Jesus a própria cabeça (Ef 5, 23). Portanto, não há salvação para aqueles que não participam do corpo, e não há salvação para os que estão afastados da Igreja. O “sangue de Cristo” mostra o verdadeiro sentido do sacrifício na cruz. Pois é preciso tomar a cruz de Cristo, e morrer por ele (Mt 10-38-39). Essa morte, é a morte do pecado para nascer para a vida, a morte pelo batismo que nos leva a conversão. Para participar do corpo e do sangue de Cristo é preciso, sobretudo, ser discípulo, isto é, aceitar a autoridade de Jesus como único e verdadeiro Mestre e Senhor (Jo 13,13) de quem procede toda a verdade (Jo 14,6), e amá-lo observando os seus ensinamentos (Jo 14,21). Se reconhecemos Jesus como nosso Mestre, devemos procurar à perfeição (2 Cor 13,11), pois “o discípulo não é mais que o mestre. Mas todo discípulo quando chegar à perfeição, será como seu mestre” (Lc 6,40).

2 Imagem e semelhança


Fazendo uma pesquisa na Bíblia baseada nos três fundamentos do amor: acolhida, perdão e comunhão, encontra-se uma extensa lista de referência que vai desde Gênesis com Adão, passando por Abel, Abraão, Noé, Moisés, indo até João no livro do Apocalipse. Esta lista extensa serve como uma prova do amor de Deus para seu povo (Israel), e depois com a vinda de Jesus, para todos os povos. O Amor de Deus se inicia em Gênesis, quando Ele por amor “criou o Homem à sua imagem”, designando o homem desde o princípio a ser amor. Entretanto, o homem, ainda incapaz de perceber a razão de sua existência, nega sua única condição de se subordinar a Deus, obedecer ao seu projeto de vida e fraternidade, querendo decidir por si mesmo o que é bem e o que é mal (comer o fruto da árvore do bem e do mal). O homem tendo desobedecido a Deus dificultou a tarefa de ser imagem límpida, como um espelho de Deus que é o próprio Amor. O homem, portanto, passou a NECESSITAR RELIGAR os três fundamentos do amor.   
No AT (Antigo Testamento) é difícil ver o povo de Deus tentando viver a plenitude do amor, pois essa plenitude só pode ser entendida como o próprio Jesus diz:
“Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai vos enviará em meu nome ele vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar o que eu vos disse.”
Portanto, é somente através do Espírito Santo de Deus agindo em nós que podemos entender que o “amor pleno” só pode ser amado se vier acompanhado de uma convicta esperança de ressurreição, considerando que Jesus veio ser o primogênito dos ressuscitados. É essa convicta esperança que nos dá a certeza das bem-aventuranças do Sermão da Montanha (Mt 5, 3-12) e que nos fortalece para suportarmos as mais densas perseguições e sofrimentos em nome do Cristo Ressuscitado. Já no AT a Boa-Nova da Ressurreição não havia sido revelada por Cristo, o que acaba criando uma barreira no entendimento absoluto do amor. O que os antigos têm são os exemplos do amor de Deus para com seu povo, acolhendo, perdoando e comungando com ele.
Já com os ensinamentos de Jesus, o povo passa a aprender que não basta amar os que o amam, mas é preciso amar também os inimigos e rezar por aqueles que os perseguem (Mt 5 43-48). A partir dessa idéia de amor universal, Jesus passa a ensinar os três fundamentos do amor sendo ele mesmo o exemplo de como é possível ao homem se tornar a “imagem e semelhança” viva de um deus que é o próprio Amor.




1. O grande mandamento

A fim de possibilitar ao povo formar uma relação social onde todos possam viver com liberdade e dignidade, Deus instituiu os Dez Mandamentos, (Ex 20, 1-17;), porque estes mandamentos não deixam construir uma sociedade baseada na escravidão que leva a morte, além de conduzirem o coração do homem ao grande mandamento que só virá com Cristo.
O Decálogo, nome dado aos Dez Mandamentos, foi escrito por Deus em duas tábuas de pedra e mantido pelos hebreus na Arca. Divido em duas tábuas, cada tábua possuía cinco dos mandamentos. Atribui-se que os cinco primeiros mandamentos estão voltados para o relacionamento com Deus e os outros cinco com o próximo. Portanto: amar a Deus sobre todas as coisas; não fazer nem adorar imagem ou escultura; não tomar o nome de Deus em vão; guardar o sábado; honrar pai e mãe constituem a primordial relação com Deus. Os outros cincos: não matar; não adulterar; não furtar; não levantar falso testemunho; não cobiçar o que é do próximo, colocam o homem numa relação mais intima com o próximo.
Jesus, porém, sintetiza os dez mandamentos em dois: “amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua mente.” e o segundo, “Amarás a teu próximo como a ti mesmo.” (Mt 22, 34-40;)

(Mt 22, 37;) “Amarás o teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma e de toda a tua mente.”

Jesus afirma que este é o maior mandamento, pois ele é a fonte de todo o amor, amor que é preciso para que se cumpra o segundo mandamento. Analisando a primeira tábua do Decálogo temos os mandamentos relacionados a Deus. Amando a Deus sobre todas as coisas, isto é, na dor, na alegria, e em todos os momentos, sobre todas as circunstancias estamos aptos a amar o próximo que é a imagem de Deus.
Não fazer imagem nem adorar imagem, hoje pode se atribuir às pessoas presas a objetos pessoais, dando um valor tão forte aquele objeto que esquecem até que existe Deus e as outras pessoas. Há pessoas que chegam brigar por algo que esvaecerá com o tempo, e há pessoas que criam uma barreira entre Deus e si mesma por estarem presas a objetos pessoais.
Tomar o nome de Deus em vão, é o mesmo que um desrespeito com alguém amado desconsiderando aquela pessoa; da mesma forma que temos respeito pelo nome de quem amamos, quanto mais devemos ter com o nome do nosso próprio Deus.
Guardar o sábado é reservar um dia especial há Deus. Não reservamos um dia ao menos na semana para passarmos com a pessoa que amamos? Pode ser ela o marido, o filho, uma visita na casa da avó ou tio, não importa, é um dia reservado a alguém que amamos. Guardar o sábado é reservar um dia para passar na presença de Deus, indo adorá-lo nas igrejas do mundo inteiro, ou se reunir com um grupo e orar e adorá-lo em qualquer lugar.
Honrar pai e mãe é honrar aquelas pessoas que nos amam e cuidaram de nós na infância, a fase mais sensível de nossas vidas, nos acolhendo, nos protegendo, enfim, nos educando, por isso está relacionado na primeira tábua, porque honrar pai e mãe é honrar aqueles que nos iniciaram no caminho de Deus. (Is 49, 1;)

(Mt 22, 38;) “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”

Certamente, Jesus ao instituir esse mandamento já sabia o amor próprio que cada um tem. No mundo atual, talvez, as pessoas levem mais ao pé da letra esse mandamento, não amando o próximo, mas amando a si mesmo demais, a ponto de esquecer o próximo ou até mesmo humilhá-lo por ser superior. “Amar o próximo como a ti mesmo” consiste em observar os outros cinco mandamentos:
Não matar, como o próprio Jesus disse (Mt 5, 21-26;) é muito mais que simplesmente tirar a vida do próximo, mas é também matá-lo em seu coração, cobrindo o espaço onde o próximo habitava por ódio. Matar o próximo é todo tipo de atitude que acaba com a esperança do próximo, é toda atitude discriminatória, por isso, Jesus enfatiza a necessidade de reconciliar-se.
Não cometer adultério é mais que simplesmente não trair o esposo ou a esposa, mas é não pensar em trair, é amar ao extremo, do mesmo modo, não cometer adultério pode estar relacionado com o relacionamento entre amigos, onde cometer adultério é trair a confiança. Segundo os ensinamentos de Jesus, ele mesmo já não chama os apóstolos de servos, mas de amigos, enfatiza assim a importância da amizade leal entre as pessoas. (Jo 15, 15).
Não furtar ganha um sentido mais amplo se pensarmos no ato de não procurar prejudicar alguém para lucro próprio, pois furtar é lesar alguém a seu próprio favor. Alguém que ama, certamente não procura prejudicar o amado, por isso, esse mandamento também se coloca diretamente numa relação de amor. O mesmo se dá ao nono mandamento, “não levantarás falso testemunho”, certamente, porque quem ama não quer prejudicar e por isso utiliza somente a verdade a favor do próximo e não contra.
O último mandamento está relacionado em aceitar as graças de Deus em seu favor e em favor do próximo. Quem ama o próximo consegue ficar alegre com as graças de Deus na vida do outro, e não pensa e possuir as mesmas, ou até, pensa em obter pra si, mas aceita as graças de Deus na própria vida dividindo a alegria com o próximo. Talvez, no mundo atual, onde a desigualdade financeira reina, ver alguém com algo melhor e aceitar a própria pobreza pareça tarefa difícil, mas para quem alimenta o coração no amor de Deus, é uma tarefa fácil.

Quando Jesus institui esse grande mandamento, amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si, ele estava resumindo todo o Decálogo, e dando a ele uma abertura maior, não o restringindo as palavras do livro do Êxodo, mas dando ao fiel a liberdade de escolher como viver esses mandamentos, desde que atuados pelo amor.

2. DEUS É AMOR

O mais belo mistério revelado no NT (Novo Testamento) é a essência de Deus: “Deus é Amor”. (1Jo 4,8). Do mesmo modo, para o apóstolo Paulo, o amor está acima de tudo ultrapassando os dons, pois os dons dependem do amor, não podem substituí-lo, e sem ele nada significam (1C 13-1-13). O amor é a fonte de qualquer comportamento verdadeiramente humano, pois leva a pessoa a discernir as situações e a criar gestos oportunos, capazes de responder adequadamente aos problemas. "Se Deus é imortal, do mesmo modo é o Amor, o único que ficará até o fim dos tempos e depois do fim dos tempos, do mesmo modo o Amor é o “Alfa e Ômega”, o Primeiro e Último, o Principio e o Fim” (Ap 22, 13), portanto desde a criação do mundo o Amor esteve presente e por isso é eterno e transcende tempo e espaço, porque é a vida do próprio Deus, da qual o cristão já participa. 
Considerando toda a fé cristã, Jesus é o próprio Deus encarnado, o Verbo que segundo João “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Portanto, Jesus que é o próprio Deus encarnado, mostra que é possível viver esse “Amor perfeito” em sua máxima essência. Temos assim um exemplo encarnado de como vivenciar o Amor; basta ao homem procurar imitar Jesus em todas as suas atitudes, pois este é a imagem perfeita de Deus Pai (Mc 1, 11). Paulo vivenciou isso, buscou imitar a Jesus e recomendou aos cristãos que o imitassem, para que buscassem imitar o próprio Cristo (1C 11, 1). Assim, sendo imitadores de Cristo, somos por excelência imitadores do Amor, o que nos garante estar tentando fazer o Bem. Tentar fazer o Bem é um passo enorme para o cristão, pois está polindo a alma para ser imagem mais nítida do próprio Cristo que é o Amor encarnado. De fato, voltamos ao Éden, onde livres do pecado, amando a Deus sobre todas as coisas, somos perfeitas imagens e semelhança de Deus.

Seguindo a mesma linha de pensamento, em Colossenses cap. 1 vv. 15-17 Paulo nos apresenta Cristo como imagem do Deus invisível, Primogênito com referência à criação inteira, pois estando em Deus na Trindade Santa, tudo foi nEle criado, por Ele criado e para Ele, isto é, tudo foi feito no Amor, por Amor e para o Amor que é o próprio Deus Uno e Trino. Se tudo foi criado no amor, então todas as coisas são boas (Gn 1 4), e se tudo foi criado por amor, todas as coisas são queridas (amadas), (incluindo os seres inanimados ex. pedras) e, se criadas para o amor, todas as coisas devem corresponder com amor. Nós, seres humanos, fomos criados nessa trindade de amor para vivermos plenamente no amor, amando não somente nossos irmãos humanos, mas também toda a criação divina. Portanto, o amor é mais que um sentimento humano de afeto é um sentimento congênito (Gerado simultaneamente) transcendente (Que transcende do sujeito para alguma coisa fora dele) e imanente (Que está compreendido na própria essência do todo) que aproxima em um estado de comunhão tanto o Criador de sua Criação, isto é, Deus do Homem, quanto a Criação da própria Criação, Homem X Homem. O amor é também uma decisão de agir em favor de outro, como quando Paulo escrevendo aos Romanos diz: “Deus dá prova de seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, quando ainda éramos pecadores.” (Rm 5, 8)

O amor ainda que congênito, só encontra sua plenitude em Deus, a própria fonte, que continua a jorrar seu amor em nossos corações através do Espírito Santo (Rm 5, 5; Jo 4, 13-14). Esse amor que jorra de Deus é o selo que nos une mais intensamente, tanto ao Criador quanto as Criaturas. Por isso, em Romanos Cap. 8 v-v. 35, Paulo apresenta o amor manifestado em Cristo, afirmando aos cristãos que nada devem temer, pois esse selo é eterno e onipotente, pois “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes, nem as coisas presentes ou futuras, nem as forças, nem a altitude, nem a profundeza, nem outra criatura qualquer poderá nos separar do amor que Deus nos manifesta em Cristo Jesus, Senhor Nosso.” (Rm 8, 38-39).


2.1 Discípulo de Cristo, Discípulo do Amor

“Eu vos dou um novo mandamento que vos amei uns aos outros. Assim como eu vos tenho amado vós deveis também amar uns aos outros. É pelo fato de vos amardes uns aos outros que todos conhecerão que sois meus discípulos.” (Jo 13, 34-35)

O NT reserva o nome de discípulo àqueles que reconheceram Jesus por seu Mestre. Primeiro mencionam-se os Doze e depois todos aqueles crentes que conheceram ou não Jesus durante sua vida terrestre. Sobretudo, ser discípulo de Jesus é imitar seus passos (1Cr 11, 1), e vivenciar o mesmo amor que ele viveu a favor do próximo.
A missão dos discípulos é levar esse amor incondicional até os confins da terra (Is 49, 6), partindo da fonte do amor que é Jesus. A garantia de que estão sendo verdadeiros discípulos está em amarem como o próprio Cristo amou. Portanto, ser discípulo é se sujeitar a Acolher, Perdoar e Comungar com o próximo. Amar ao próximo como Jesus amou é uma medida dura que exige do cristão determinação e uma abdicação de uma vida de luxo para viver a mesma humildade de Cristo. É por isso que Jesus afirma que é através do amor ao próximo que reconhecerão que são discípulos, pois Jesus veio viver a máxima do amor sendo manso e humilde de coração (Mt 11, 29). Mas o jugo que Jesus carregou é leve, e a mesma medida é dada aos que querem segui-lo, pois o jugo carregado com Amor se torna leve. Por fim, ser discípulo de Cristo é dar-se como oferta para Deus, como o próprio Jesus disse posto em prova discutindo sobre a questão do pagamento de tributo e revelando assim, numa simplicidade, qual deve ser nossa oferta diante de Deus (Mt 22, 15).  Respondendo: “Daí, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Jesus ensinou que se Deus é Amor, devemos retribuir a Deus com Amor.

2.2 O amor não é amado

Os quatro evangelistas se esforçam em mostrar a preocupação de Jesus para que seus discípulos (aqui no caso todos os crentes, mesmo depois da sua ressurreição) vivenciassem o amor, e não somente ficasse nas palavras (1 Jo 3, 18). Esse esforço demonstra a necessidade congênita de praticar o amor. A dificuldade do ser humano, porém, encontra-se em aceitar que os irmãos sendo “imagem e semelhança” de Deus também são imagens do amor e necessitam serem amados. Fechando-se então em um casulo de egoísmo. O homem, apesar de sentir necessidade de amar e ser amado procura resolver esse conflito íntimo, muitas vezes encontrando em animais ou objetos a solução de sua necessidade de amar, e entregam seu amor, que deveria ser a Deus e aos irmãos que são “imagem e semelhança”, para objetos e animais, que jamais poderão suprir o vazio que se criou no coração. A resposta para isso está no medo da relação com outros seres humanos. Fechados nesse casulo de egoísmo, o homem sente medo de se decepcionar e procura evacuar esse amor inato em criaturas que não poderão decepcioná-lo, isto é, não o ameaçam sentimentalmente. Mera ilusão, pois desta forma estão se enfraquecendo, criando um abismo cada vez mais profundo entre Deus, que é a fonte inesgotável de amor, e a si mesmo, reflexo desse amor.
Através da parábola do juízo final (Mt 25, 31-40) Jesus demonstra que é na prática do amor com os irmãos que estamos amando-o. Desta forma, o amor ao próximo é análogo (pois é similar por certo aspecto e exerce a mesma função, sendo de origem e estrutura diferentes) com o amor a Deus e homólogo (pois tem a mesma posição relativa, proporção, valor ou estrutura correspondente), pois “quem não ama seu irmão, a quem vê, não é possível que ame a Deus, a quem não vê” (1 Jo 4, 20). “Portanto, quem ama a Deus, ame também seu irmão”, isto é, a prática do amor ao próximo é uma ponte que liga ao amor de Deus, pois o amor de Deus se manifesta visualmente na figura reflexível do irmão.

O drama do amor se desenrola não por ocasião do contato com Jesus, mas na própria pessoa de Jesus onde se tem a revelação concreta do amor. À vista dos homens, sua vida é toda doada, não somente a alguns amigos, mas a todos, pois passa fazendo o bem no desapego total e dando atenção às multidões, inclusive, e sobre tudo, aos mais desprezados e aos indignos. Por fim, escolhendo gratuitamente os que ele quer para fazer deles seus amigos.
É no sentido de doação ao próximo que o amor encontra seu píncaro (Jo 3, 16), pois Jesus desde o princípio “embora, subsistindo como imagem de Deus, não julgou como um bem a ser conservado com ciúme sua igualdade com Deus, muito pelo contrário: ele mesmo se reduziu a nada, assumindo condição de servo e tornando-se solidário com os homens” (Fl 2, 6-7), cumprindo assim a vontade do Pai (Jo 6, 38). “E quem me enviou está comigo, e não me deixou só, porque sempre faço o que lhe agrada.” Isto é, Jesus abriu mão de sua divindade vindo amar o homem, cumprindo assim a vontade do Pai. Nós também devemos aprender com Jesus a amar o próximo, que também é amor, mas não é amado. Desta forma amando o próximo fechamos um triângulo: a base é o amor de Cristo pelos os que são amados por Deus, o lado esquerdo é a observância dos mandamentos que nos leva a ser amado por Deus, o terceiro lado, é o amor de Deus pelos que cumprem seus mandamentos. (Jo 14, 21). “Quem recebe os meus mandamentos e os observa, esse me ama; e o que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me mostrarei a ele.”

           

Deus                Nós

Cristo


2.3 O fruto do amor

O amor é como uma videira. Jesus é a videira e nós somos os ramos (Jo 15, 1-11). Se Jesus é o amor, permanecendo nele, sendo ramos dele, nosso fruto deve ser o amor. Assim como é da raiz que vem os nutrientes necessários para que os ramos produzam bons frutos, é de Cristo que vem a força necessária para o nosso crescimento, afim de que produzamos bons frutos.
Toda árvore para dar o fruto precisa ser regada, precisa esperar a água da chuva para germinar e crescer. Desde o Éden, o homem descobriu a importância de rezar. Neste mesmo jardim, para que surgisse a vegetação, era preciso também que Deus tivesse feito chover. O homem, por si só não pode dar o fruto, mas como Elias, ele precisa orar, para que, graças à chuva, “a terra dê seu fruto” (Tg 5,17s). Portanto é a oração que irriga o coração de Cristo para nos abençoar com tudo o que precisamos para dar bons frutos.
Se nossa oração nos liga intensamente a videira que nos irriga com mais amor, o lavrador (Deus Pai) nos poda com a finalidade de darmos novos frutos (Jo 15, 1-2). Como os povos antigos ofereciam a Deus os produtos (frutos) da terra, do esforço e trabalho deles, nossos frutos devem ser um sinal de graças por Deus cuidar de cada um de nós como galhos, galhos queridos. Mas Deus não exige de suas criaturas frutos sem lhes dar o meio. É através de constante oração, em busca de união em Cristo que podemos dar bons frutos, e o nosso fruto é o resultado de nossas ações (Rm 6, 20-23). Assim, sendo ramos de Cristo, a videira que produz amor, nossos frutos são de santificação e o resultado é a vida eterna, pois não se pode colher uvas de espinheiros, nem figos de urtigas (Mt 7, 16), e pelos nossos frutos Deus nos reconhecerá.



CONSIDERAÇÕES GERAIS
 Neste primeiro momento vimos como Deus se constitui como Amor e como nós sendo “imagem e semelhança de Deus” somos imagens e semelhança do Amor. Também vimos que o Decálogo é constituído de “regras de conduta” quanto como devemos amar, tendo uma maior liberdade com a Boa-Nova de Jesus Cristo que assumiu a forma perfeita do Amor (Jo 1, 14). Além disso, vimos como o Amor deve ser amado e qual é o papel do verdadeiro Cristão que busca se tornar uma imagem mais nítida do Amor.
Partindo desse ponto estaremos iniciando um estudo individual sobre cada face apontando suas principais características e como elas servem para constituir o “AMOR UNO e TRINO”.  Apesar de iniciar o estudo pela “acolhida”, devemos ter sempre em mente que o amor não tem início, nem meio e nem fim, ele é INFINITO como o próprio Deus. Portanto, a ordem aqui expressa servirá apenas como base pedagógica a fim de facilitar a compreensão da TRINDADE do AMOR.

Acolhida
CONCEITOS GERAIS
Partindo do conceito da palavra, “acolhida” é a recepção que se faz a alguém, refúgio, proteção: “Buscou acolhida entre os amigos”. Partindo do mesmo radical ainda temos acolher e acolhedor. Acolher é receber alguém, hospedar, agasalhar: “Acolheu-me de braços abertos”. Acolher ainda quer dizer aceitar, receber: “Acolheu com agrado as nossas sugestões”. Acolhedor está relacionado com o que ou o que dá boa acolhida, hospitaleiro.
Entender o sentido da palavra abre a nossa mente a entender como o ato de acolher está inteiramente ligado ao ato de amar. O Evangelho de São Lucas inicia-se narrando como Deus acolheu as orações de Zacarias e se compadecendo dele e de sua esposa o agraciou com um filho: João Batista. Do mesmo modo o “Fiat” (sim) de Maria ao anjo Gabriel foi o embrião para que à vontade de Deus fosse feita nela gerando assim Jesus (Lc 1,38). Se o evangelho inicia-se com “acolhida” entende-se que a “acolhida” é o principio do Amor, é ela quem nos aproxima de Deus. Do mesmo modo Simão Pedro e André acolheram a palavra de Jesus o seguindo imediatamente largando suas redes (Mt 4, 18-22). O primeiro milagre de Jesus (bodas de Caná: Jo 2, 1-12) foi um gesto de acolhida de Jesus ao pedido de sua mãe.    
A “acolhida” na sua face de amor também se aproxima do termo “misericórdia” pois este tem sua origem no latim, surgido da junção de misero/miséria e cor/coração. A palavra misericórdia representa, portanto, um sentimento de empatia, colocar a miséria do próximo no nosso coração. A misericórdia se refere ao coração que se compadece e age. Acolher a miséria do próximo no coração.
 Fazem parte da acolhida três conceitos: acolher a vontade de Deus, acolher a vontade do próximo e acolher os pecados do próximo.

1.1 Acolher a vontade de Deus
Desde Adão, Deus tem um propósito para cada ser vivo. Esse propósito é regido por Deus e envolve a decisão de cada um. Do mesmo modo que Maria aceitou o plano de Deus para que ela fosse à mãe de Jesus o Messias, Deus tem um plano para cada um e espera de nós o nosso “Fiat” (sim). O problema é que não entendemos os planos divinos e julgamos que somos responsáveis por nosso futuro. Essa atitude de revolta nos afasta de Deus acarretando por conseqüência um monte de aborrecimentos, que nada mais são do que a recusa aos planos de Deus. Daí Thiago nos diz: “Vocês não recebem, porque não pedem; e vocês pedem, mas não recebem, porque pedem mal, com a intenção de gastarem em seus prazeres” (Tg 4, 2-3). O homem ansioso por possuir bens pede se esquecendo que Deus tem um desígnio para ele, e se o pedido do homem não está dentro do desígnio divino, Deus não o atenderá, porque esse pedido é egoísta que busca apenas a realização humana dentro dos esquemas de uma sociedade idolátrica, que adora os deuses da riqueza e poder. O homem, consciente da sua figura de “imagem e semelhança do amor”, sabe o que pedir e como pedir ao Deus que está pronto a atendê-lo a favor da construção de uma sociedade comunitária (que visa o bem comum).
Acolher a vontade de Deus, também é abrir mão de si mesmo, para viver o plano divino. A história de Abraão está ligada diretamente à história de toda a humanidade: com ele começa a surgir o embrião de um povo que terá a missão de trazer a bênção de Deus para todas as nações da terra. Deus teve um plano com Abraão, um plano que se estendeu e foi muito além, porque Abraão o aceitou desde o início, sem recusa alguma. Foi a partir de Abraão que nasceu um povo portador do projeto de Deus: toda nação que se orientar por esse projeto estará refazendo no homem a imagem e semelhança de Deus desfigurada pelo pecado. A diferença de Abraão foi que ele acolheu o chamado divino e aceitou o risco sem restrições. E qual foi à promessa de Deus a Abraão? Aquilo que qualquer um no tempo de Abraão (vivendo como nômade) desejaria: terra para os rebanhos e filhos para cuidar deles. Em outras palavras, o que Deus promete é exatamente aquilo a que o homem aspira para responder às suas necessidades vitais. Entretanto, quais sãos as necessidades vitais do homem no tempo de hoje? É somente se pensarmos de forma aberta visando um bem coletivo, que essas necessidades virão aparecer, pois o amor se manifesta no coletivo: na comunidade. Portanto, nossas necessidades vitais estão relacionadas com aquilo que precisamos para viver melhor com os outros e consigo mesmo, não aquilo que desejamos para vivermos melhores em nossas casas trancados diante de muros altos e grades de proteção. Portanto, acolher a vontade de Deus, também é assumir um compromisso com o próximo.  

1.2 Acolher a vontade do próximo

A maior dificuldade humana no “plano divino”, talvez esteja em reconhecer que existe um próximo e que esse próximo também tem necessidades, tem vontades que para serem satisfeitas é preciso que outro alguém abra mão da própria vontade. O próprio Cristo não veio para satisfazer a própria vontade, mas para que se cumprisse à vontade do Pai: “não posso fazer nada por mim mesmo. Julgo segundo o que ouço; e o meu julgamento é justo, porque não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (Jo 5, 30)”.
Reconhecer o próximo é a primeira parte (Lc 10, 25-37). Ter a atitude do bom-samaritano é simplesmente reconhecer que somos membros de uma só pátria: a celeste. A acolhida só se dará se tivermos um “coração materno”, acolhendo todos como filhos, sem distinção. Acolher também é ter sentimentos de solidariedade e fraternidade. Para que isso ocorra é preciso que esses sentimentos estejam todos bem fixados em nossos corações, de forma que nossas escolhas mediantes ao nosso próximo sejam medidas com a solidariedade e a fraternidade. Para sustentar esses sentimentos temos a segunda tábua da Lei. Os Dez Mandamentos não vieram para punir (ou condenar) os crentes, Os Dez Mandamentos são as bases de conduta ética que indica o caminho do amor ao próximo que é Jesus Cristo. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai se não por mim (Jo 14, 6).
No início do século I d.C até meados do século IV d.C, os primeiros cristãos passaram por grandes perseguições. Muitos foram atirados aos leões, outros queimados, estrangulados, enfim, houve muitos mártires. Mas por quê? Porque alguns haviam acolhido a palavra de Jesus, outros não. Esse grande número que ainda não havia acolhido a vontade de Deus, não percebia que faziam parte de uma mesma grande família em Cristo, e por tanto, não estavam aptos a acolherem uma vida em comunhão com os cristãos. Esse panorama mudou um pouco nos últimos séculos, e agora estamos caminhando para mais perto do Reino dos Céus, entretanto, para que esse Reino venha a nós definitivamente, é preciso também que renunciemos nosso orgulho e acolhamos os pecados dos nossos irmãos.  

1.3 Acolher os pecados

Na sua trajetória, Jesus pregou um amor incondicional que se estende por mais de 20 séculos. Vemos também, claramente nos evangelhos sinóticos, que por onde passou Jesus perdoou e fez o bem. Ao contrário de seus contemporâneos, Jesus não se afastava dos pecadores, pelo contrário, os procurava como assim afirmava: “Em verdade, não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 9, 13). Jesus sabia exatamente que ao se aproximar dos pecadores e dar-lhes uma nova chance, estaria os convidando à conversão. A conversão cristã não poderia vir por meio de ameaças ou de temor, mas da acolhida do pecador.
Para que a acolhida do perdão tenha êxito, é preciso reconhecer duas condições, de que todos nós pecamos, e de que todos nós necessitamos do perdão. Foi exatamente o que Jesus ensinou no caso da mulher adúltera da qual Jesus livrou do apedrejamento (Jo 8, 1-11). A história de Jesus com a mulher adúltera é um exemplo de como Ele não evita os pecadores, pelo contrário, antepõe-se para levá-los à conversão. Jesus não lança à cara de ninguém a culpa cometida. Alivia o fardo daqueles cuja falta os fez cair por terra para que voltassem a erguer-se. Não procura que os culpados sejam condenados e punidos, mas que sejam remidos e revivam, não se esquecendo nunca de que Deus os ama. Porque Deus os acolhendo, poderão assumir humildemente a sua história e levar uma vida mais justa.
Assumindo nossa condição humana de “imagem e semelhança de Deus”, temos também a obrigação de perdoar nossos irmãos, não apenas apagando suas culpas, mas dando condições para que eles recomecem. Foi o que ensinou Jesus na parábola do filho pródigo (Lc 15, 11 ss).
Acolher o pecado do próximo é abrir mão do rancor, do orgulho e do sentimento de discórdia gerado pelo pecado, é iniciar uma nova via de relacionamento capaz de recolocar o pecador no seio da sociedade. É exatamente o que o pai fez na parábola do filho pródigo ao dar ao filho que voltou a melhor roupa, anel e sandálias. No entanto, essa atitude exige muito do homem que se choca com sua natureza marcada pelo pecado, criando nele a mesma dúvida de Pedro: “quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim?” A resposta de Jesus “77x7” mostra a infinidade na qual devemos perdoar. Essa medida infinita é a mesma medida do “amor divino”, da “misericórdia infinita” de Deus para com os pecadores.  Mas o perdão de nossos pecados, como afirma Jesus, está condicionado a nós mesmo. A medida com qual Deus nos perdoa, é a medida na qual perdoamos nossos irmãos. “Se vós perdoardes aos outros as suas faltas, vosso pai que está nos céus também vos perdoará. Mas, se não perdoardes aos homens, o Pai também não vos perdoará as faltas.” (Mt 6, 14-15)

CONSIDERAÇÕES GERAIS: ACOLHIDA
O mistério da Acolhida se dá no princípio da abdicação. Durante toda a Bíblia, Deus nos mostrou como devemos acolher ao próximo abdicando nossas vontades para acolher a Vontade Divina e a Vontade do próximo, para que Deus viesse nos recobrir com sua Glória. Abraão quando se encontrava na presença de Deus, ao ver se aproximar três homens, largou tudo para acolhê-los dando-lhe não só o de comer, mas também onde descansarem e especialmente a atenção. A solicitude de Abraão em atender aos hóspedes (Gn 18, 3-8) põe em realce o valor da hospitalidade, tão apreciada no Oriente e recomendada por Cristo (Mt 25,35; Rm 12,13). Deus continua esperando de nós essa mesma hospitalidade. Muitos cristãos pensam que vão agradar mais a Deus mostrando diante das visitas em sua casa que vão à igreja, muitas vezes forçando-as a também irem, ou as expulsando para não perderem àquela hora marcada na Igreja. Mas a Acolhida como gesto de “amor concreto” se dá em receber bem aqueles que lhe vieram ver, dando a eles provas de seu amor, oferecendo não só o tradicional café, mas principalmente a atenção para ouvir muitas vezes um triste comentário dele, um lamento, ou dividir a alegria de uma boa notícia, como um noivado, uma gestação ou outras tantas. A multidão que seguia Jesus não o seguia simplesmente porque acreditavam nele, mas porque se sentiam acolhidas. Jesus não excluía de seu meio os pecadores, ou os pagãos (que hoje podemos considerar os cristãos afastados, ou confusos em meio há tanto “joio”). Pelo contrário, semeava ali mesmo, por onde passava o amor e na sua forma mais simples que era a da acolhida. Jesus não perdia uma oportunidade de pregar a Boa-Nova (evangelho) aproveitando tantos os casamentos, como também aproveitava os almoços com os pecadores. Opondo-se aos sacerdotes de seu tempo que excluía os pecadores, ou os agredia com palavras de desprezo e condenação, Jesus acolhia. Sua pregação inicia-se nos seus gestos. Por onde passava a multidão corria e recorria a Ele, pois podiam confiar que nEle seriam acolhidas. Até mesmo a João Batista Jesus se opôs, enquanto que João gritava “Raça de Víboras”, Jesus chamava de “minhas ovelhas desgarradas”, ovelhas que Ele vinha buscar. Jesus não expunha os pecados de ninguém, mas os acolhia perdoando, no simples gesto de um abraço, e na autoridade de sua voz.
Durante sua vida, e até com a sua ressurreição Jesus foi sempre a “imagem e semelhança do Amor”, pois passou a vida acolhendo e acolhendo. Se quisermos ser “imagem e semelhança de Deus”, busquemos primeiro imitar a Cristo que em sua vida foi “imagem e semelhança da Acolhida”.



Perdão
CONCEITOS GERAIS

Por muitos séculos, principalmente no primórdio da Igreja, o Cristianismo era conhecido pela forma que os cristãos se tratavam sempre se perdoando. Isso se deu primeiro pelo próprio exemplo de Cristo que por onde passou perdoou os que lhe vinham. O perdão de Cristo era um perdão que vinha do coração, um perdão misericordioso. Por isso até hoje se clama pela misericórdia infinita de Deus.  
O perdão é um processo mental  ou espiritual de cessar o sentimento de ressentimento ou  raiva contra outra pessoa, decorrente de uma ofensa percebida, diferença ou erro, ou cessar a exigência de castigo ou restituição. O perdão pode ser considerado simplesmente em termos dos sentimentos da pessoa que perdoa, ou em termos do relacionamento entre o que perdoa e a pessoa perdoada. É normalmente concedido sem qualquer expectativa de compensação, e pode ocorrer sem que o perdoado tome conhecimento (por exemplo, uma pessoa pode perdoar outra pessoa que está morta ou que não se vê a muito tempo). Em outros casos, o perdão pode vir através da oferta de alguma forma de desculpa ou restituição, ou mesmo um justo pedido de perdão, dirigido ao ofendido, por acreditar que ele é capaz de perdoar.
O perdão é o esquecimento completo e absoluto das ofensas, vem do coração é sincero, generoso e não fere o amor próprio do ofensor. Não impõe condições humilhantes tampouco é motivado por orgulho ou ostentação. O verdadeiro perdão se reconhece pelos atos e não pelas palavras.
A primeira atitude de Jesus sempre foi perdoar os que lhe vinham. Na cruz, quando tudo estava para ser consumado, fez o mesmo pedindo ao Pai o perdão por nossos pecados (Lc 23, 34). Essa atitude demonstra que o perdão não tem limite, nem hora e nem local, mas deve ser dado o quanto antes, como afirmava Jesus: “faze depressas as pazes com teu adversário enquanto estás a caminho com ele” (Mt 5, 25).
O perdão não pode ser entendido como unilateral, e nem enxergado apenas como uma obrigação que temos com o próximo para agradar a Deus. O verdadeiro perdão cria um elo perfeito entre Deus, você e seu irmão. O perdão que Deus lhe dará está condicionado ao perdão que você dará ao seu irmão:
“Perdoa-nos o mal que fizemos assim como perdamos aos que nos fizeram mal” (Mt 6, 12).

O perdão é o gesto mais concreto do amor, pois exige do ofendido a abdicação daquilo que considera como direito: negar o perdão ou exigir “vingança” daquele que lhe fez mal. Este princípio de vingança conhecido também como “Lei do Talião” ou “olho por olho, dente por dente” foi um das primeiras discussões de Jesus Cristo. Jesus se opôs à ela demonstrando que a melhor forma de romper o círculo da violência, da opressão e da injustiça é responder ao mal com o bem (Rm 12, 14-21). Ao contrário da Lei do Talião (Ex 21, 23-25) que permitia responder à violência com a violência, cuja finalidade era coibir arbitrariedades contra os direitos humanos, Jesus inaugura um novo tempo, onde o Amor na sua forma de Perdão é o único que consegue criar um ambiente de paz. Mas o perdão proposto por Jesus não fica simplesmente na atitude de esquecer ou aceitar o mal do outro, esse perdão é capaz de oferecer a outra face (Mt 5, 39), mesmo sabendo que apanhará. Isso porque acredita na Justiça Divina, e sabe que seu julgamento é meramente humano e egoísta. Daí se gera um novo paradoxo: separar Perdão, Justiça e Vingança.

1.1 Perdão: Muito ama quem muito perdoa.

Enquanto que a Acolhida é o gesto mais simples do Amor, o Perdão é o gesto concreto, porque não procura seus interesses, “é paciente, bondoso, não é invejoso, não é arrogante, nem orgulhoso” (1Cr 13, 4).  Mas a principal condição do Perdão Face do Amor, está em não “buscar seus interesses, não se irritar, nem se julgar ofendido. Não se alegrar com a injustiça, mas com a verdade” (1Cr 13, 5). Paulo ao recomendar a caridade (o amor) diz que o Amor “tudo perdoa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cr 13, 6). Assim, se amor tudo perdoa, podemos concluir que o perdão é o próprio amor, um gesto concreto, porque o perdão implica todas as condições anteriormente citadas.
Na Bíblia, o pecador é um devedor a quem Deus, com seu perdão, perdoa a dívida de forma tão eficaz que Ele já não vê o pecado, o qual é como que jogado para trás, tirado, expiado, destruído. Aos olhos de Deus o pecador arrependido já não possui mais pecados, aquilo que foi perdoado é apagado de sua vida. Para o cristão, o seu perdão deve ser igual, como o de uma criança que ora briga, ora faz as pazes como se nada houvesse acontecido. O erro mais comum do cristão é dizer que perdoou, quando na verdade fica relembrando a falta perdoada. A exemplo de Cristo, o cristão deve primeiro perdoar, pois o perdão é o princípio da conversão. Se Jesus condenasse os pecadores de seu tempo sem perdoá-los, quem o teria seguido?
O perdão se torna um gesto mais concreto de Amor, quando buscamos através dele a reconciliação e uma reaproximação com o pecador. Entre os próprios discípulos de Cristo estavam Mateus (cobrador de imposto, considerado pecador) (Mt 9, 9) e Pedro que na noite da Paixão o negou três vezes (Mt 26, 69-75). Além disso, Jesus perdoou muitos pelo caminho, e muitos o seguiram. Para Jesus sua missão era perdoar, afinal “Em verdade, não vim chamar os justo, mas os pecadores”, afirmou Jesus sentado na mesa ao lado dos detestados cobradores de impostos e pecadores (Mt 9, 13).
De fato, o perdão de Jesus é infinito, assim como sua misericórdia, mas sua atitude era mais que o gesto de amor: era um exemplo real de como é possível viver o perdão. Desta forma, Jesus demonstrava que o perdão não é somente uma condição preliminar da vida nova, é um dos seus elementos essenciais. Em Siracides, vemos o nexo que liga o perdão dado pelo homem a seu semelhante com o perdão que ele pede a Deus: “Perdoa a teu próximo a suas faltas e então, ao rezardes, teus pecados serão perdoados. Se um homem guarda raiva de outro, como poderá pedir a Deus a cura? Se não tem compaixão de um homem seu semelhante, como suplicará por suas próprias faltas? Se ele, que é carne, guarda rancor, quem lhe perdoará os pecados?” (Sr 28, 2-5).
O mesmo nos ensinou Jesus na parábola do devedor cruel (Mt 18, 23-35), onde o devedor suplica ao senhor o perdão da dívida, após ser concedido, o devedor cobra daquele que lhe devia sem lhe dar o perdão. É a mesma proposta da oração do pai-nosso: “perdoa os nossos pecados assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”
Na questão do Perdão, não se pode negar a importância do batismo, porque através do batismo o Cristão se propõe a uma vida dedicada aos mistérios da fé, perdoado totalmente dos seus pecados. João batista pregava o batismo da conversão espiritual manifestada por atos concretos preparando o povo para a manifestação de Jesus Cristo.  Partindo desse ponto, vemos o perdão de Deus manifestado, permitindo ao fiel batizado não só a participação no Reino de Deus, mas uma vida convertida, dentro dos propósitos divinos. O Perdão por nós dado ao irmão pecador, tem o mesmo poder, pois ao invés de dividir, amplia as diferenças, o perdão reconcilia, permitindo uma vida nova: a conversão.

1.2 A Justiça de Deus é a prática do amor

A justiça do AT não é apenas distributiva, que consiste em “dar a cada um o seu” ou cumprir os deveres cívicos, mas inclui também a perfeição moral religiosa. Ser justo é não cometer maldade, agir de acordo com a vontade de Deus.
O Novo Testamento acrescenta o caráter de Deus ser o único a ter o poder de julgar, pois sendo perfeito é perfeitamente justo. Assim, “como poderia o homem ser justo diante de Deus?” (Jó 9,2) Assim, os atos humanos por si só não são capazes de justificar o homem, nem sacrifício algum, visto que Jesus morreu na cruz para que todos fossem salvos. A salvação dos homens, portanto, é a graça de Deus concedida presentemente. O apóstolo Paulo dirá que a justiça de Deus desce do céu e vem salvar os que nEle crêem (Rm 3, 21s;). 
O que diferencia a justiça do perdão é que a justiça procura ressarcir o dano causado por algum meio, seja punindo o transgressor (pecador) com uma pena física ou moral. Essa atitude se opõe claramente as atitudes de Cristo que afirmava não vir para julgar: “Vós julgas por critérios da carne; mas eu não julgo ninguém” (Jo 8, 15). A atitude de Jesus é unicamente amar na sua forma mais concreta que é o perdão. O homem, porém, sentindo-se injustiçado procura satisfazer seu anseio pela “falsa justiça”, já que sua justiça é meramente egoísta e visa apenas ressarcir a si mesmo. Esta se opõe ao modelo de justiça proposto em Isaías cap. 58, versículos do 1 ao 11. Nesse trecho a justiça é comparada ao jejum que agrada ao Senhor, um jejum que “rompe as cadeias da injustiças, torna livre os oprimidos, reparte o pão com os famintos e acolhe em casa os pobres sem abrigos sem desdenhar os semelhantes”. Em suma, é uma justiça que visa o bem comum, diferente da justiça humana que procura sempre satisfazer a si mesma.
Definitivamente, a justiça de Deus não se pode reduzir ao exercício de um julgamento, ela é antes de tudo misericordiosa fidelidade a uma vontade de salvação, criando no homem a justiça que ela dele exige.

1.3 Vingar o mal com o bem
            Vingança consiste na retaliação contra uma pessoa ou grupo em resposta a algo que foi percebido ou sentido como prejudicial. Embora muitos aspectos da vingança possam lembrar o conceito de igualar as coisas, na verdade a vingança em geral tem um objetivo mais destrutivo do que construtivo. Quem busca vingança deseja forçar o outro lado a passar pelo que passou e/ou garantir que não seja capaz de repetir a ação nunca mais. Nesse caso voltamos a Lei de Taliã(Exôdo 21:24) o que tentou limitar o dano causado, igualando ao original, para evitar uma série de ações violentas saíssem do controle. Nesse ponto em Romanos 12, 19 a vingança passa a ser de Deus, pois ele não busca seus interesses, mas que o oprimido seja vingado. Daí Pulo dizia: “não vos vingueis uns dos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está ecsrito: A mim pertence a vingança, eu é que darei a paga merecida, diz o Senhor”. Em modos gerais, a vingança humana é uma forma de satisfazer o ego que ao invés de sedar a violência através de suas práticas punitivas, a vingança gera muitas vezes um sentimento controvérsio no ser punido. Veja o exemplo das penitêncárias públicas que pretendem fazer com que o deliqüênte repense nas suas atitudes diante do fato de ter sua liberdade detida. Entretanto, o efeito que na maioria das vezes surte é um sentimento de “injustiça” diante da sociedade e ele sai em busca de uma “nova vingança” a seu favor.
            Por isso, Jesus Cristo insistia em amar seus inimigos, pois o amor é o único capaz de apagar os sentimentos de vingança. Desta forma “não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem” (Rm 12, 21).

CONSIDERAÇÕES GERAIS: PERDÃO
            Em suma, o perdão é a prática do amor, pois através dele se instala a paz no mundo. A paz é o resultado de um mundo mais tolerante que se opõe a prática da vingança.
            Podemos também considerar que o perdão é superior a prática da justiça e vingança humana, pois o perdão é sempre divino, considerado que ele é Amor e que Deus é Amor. Além disso, A justiça só tende a ser divina quando buscamos lutar pelos direitos do próximo ao contrário da vingança que reclama a “justiça a seu próprio favor”.
            Como já foi anteriormente dito, “quem muito ama muito perdoa”, além disso, com o Evangelho, Jesus Cristo instaura uma nova face do Perdão que é o “amor aos inimigos” única via capaz de romper a opressão e a injustiça, pois com Amor “respondemos o bem com o mal”.  
           
COMUNHÃO
CONCEITOS GERAIS

            Existe uma relação muito interessante entre comum, comunhão e comungar. Esse conjunto de palavras pertencem todos a um mesmo radical em latin Commun. De modo geral, diz-se uma coisa que pertence ou é a própria a todos ou da qual cada um pode participar: sala comum, interesse comum. Que se faz em conjunto, em reunião: obra comum, refeição comum.
            A idéia de comunhão atribuida a celebração em memória da morte sacrificial e ressurreição de Jesus Cristo, recebe o nome também de Eucaristía (do grego εχαριστία, cujo significado é "reconhecimento”, “ação de graças”). Neste sentido tem-se a idéia de uma “refeição comum em ação de graças a Jesus Cristo reconhecendo que se sacrificou e ressuscitou para a Salvação dos homens”.
            Pensar em Comunhão como gesto de Amor, ou ainda, como o próprio Amor, é preciso partir da maior manifestação de Amor que foi a Paixão de Cristo. Talvez por esse motivo a comunhão também se relacione com “sacrificios”. Para que haja um perfeita comunhão entre os cristãos é preciso que um e/ou todos, abdiquem alguns privlégios em favor de um “bem comum”, isto é, sacrifiquem seus próprios interesses. Por isso afirma Jesus que os seus devem tomar parte em seus sofrimentos para serem dignos dele (Mc 8,34).
A união fraterna dos primeiros cristãos resulta da sua comum fé no Senhor Jesus, do seu desejo de juntos imitá-lo. Essa comunhão de fé entre eles realiza-se em primeiro lugar na fração do pão, no enisno dos apóstolos e nas orações (At 2, 42). Sobretudo, a comunhão deles era plena pois tinham “um só coração e uma só alma” (At 4,32), comungando não só da mesma fé, mas também de uma vida em comum, pois “vendiam tudo e levavam o dinheiro” e “a distribuição era feita de acordo com as necessidades de cada um” e por isso não havia necessitados entre eles (At 4, 32-35).
 A fração do pão por Jesus Cristo como sendo seu Corpo e a distribuição do Vinho como seu Sangue, no contexto da comunhão exprime a necessidade humana de uma comunhão com Deus. As refeições da Antiga Aliança relatam uma refeição na qual eles acreditavam que Deus participava. Jesus porém inaugura um novo culto onde “o seu corpo e seu sangue” são a própria refeição estabelecendo assim uma comunhão entre todos os que participam da mesma mesa. Portanto, participar da comunhão é partilhar de um só pão (ou um só destino), é a manifestação do Reino de Deus, de justiça, cujo todos podem participar desde que vivam a virtude de Partilhar.







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