INTRODUÇÃO
Com a entrada do século
XXI, o mundo viu mudanças gigantescas e infelizmente uma onda de intolerância
que gera desde problemas familiares até guerras entre países. O que ocorre
frequentemente é que as pessoas estão buscando cada vez mais Deus, mas não em
sua essência, e sim como solução para problemas pessoais. Certamente Deus quer
ver cada um de seus filhos felizes e Ele sabe as necessidades de cada um,
entretanto, Ele espera desses seus filhos, pelo menos, o reconhecimento do dom
da vida, reconhecimento que, para Deus, só pode vir na forma de amor. Este amor
só pode ser encontrado na Bíblia através dos ensinamentos iniciados por Jesus
Cristo e continuados pelos apóstolos.
Apesar da palavra “amor”
designar, com efeito, muitas realidades diferentes, carnais e espirituais,
passionais ou refletidas, graves ou ligeiras, libertadoras ou destruidoras, o
amor só pode ser amado se for amado em plenitude. Ninguém ama pela metade, ou
parcialmente.
"Deus é amor, e
quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele" (1 Jo 4,16). Por meio destas
palavras, João exprime, com singular clareza, o centro da fé, e também a imagem
do homem e do seu caminho. Isto porque, confessar que Deus é amor, e acreditar
neste amor, implica em reconhecer-se como participante deste "amor que vem
de Deus" (1 Jo 4,7). Apesar da primeira Carta de João ser amplamente
conhecida, e sua leitura comum nas comunidades, seu conteúdo tem sido mais
discutido teologicamente, do que levado à práxis. O amor de Deus pela
humanidade é uma questão fundamental para a vida e coloca questões decisivas
sobre quem é Deus e quem somos nós. Durante toda a história da Igreja,
teólogos, em todos os séculos, discutiam o mistério da Trindade. Concluíram que
Deus é Amor, como afirma a primeira Carta de João, porém, deixaram uma lacuna.
O homem sendo imagem de Deus, e Deus sendo amor, o homem também é imagem do
amor? Se partirmos do pressuposto de que Deus fez o homem à sua imagem e
semelhança (Gn 1,26), podemos reconhecer que o homem é, portanto, imagem e semelhança
do Amor. Entretanto, qual é o papel da humanidade sendo imagem e semelhança de
Deus? Que alterações essa concepção trás na vida dos fieis? Qual é o
papel da humanidade sendo imagem
e semelhança de Deus-Amor?
Apesar de sermos “imagem e
semelhança” do Amor, continuamos a ver a intolerância reinando sobre o mundo.
Certamente o que surge na mente de cada um é como não estamos vivendo o amor;
talvez até amemos alguns mais queridos, ou homens de bem, mas não vivemos o
amor em sua plenitude. Por falta dessa plenitude que a intolerância cresce, por
nossa negligência ou até por falta de conhecimento, pois muitas vezes o que
julgamos ser correto talvez não esteja dentro do mandamento do Amor. É somente
através da leitura da Bíblia e da própria experiência de amar, que podemos
compreender a plenitude do Deus-Amor.
1
Conceitos gerais sobre o amor
Ao longo dos séculos,
teólogos investem em debates sobre o tema da caridade e suas inúmeras
possibilidades no contexto social. Desde a Igreja Primitiva e ao longo dos
séculos, a prática da caridade tem sido recomendada com grande insistência,
porém, nos parece que conhecemos e vivemos muito pouco o sentido profundo da
caridade cristã. A tradição cristã, desde os seus primeiros teólogos, afirmou a
inseparabilidade da caridade e da fé, na medida que cobrava com rigor à justiça
para com os pobres. O cristianismo, que teve sua origem em tempos de profunda
crise econômica, social, política e cultural, tem uma interessante contribuição
para uma espiritualidade vigorosa e, paradoxalmente, carregada de ternura,
capaz de ajudar o ser humano não só a enfrentar os desafios da crise, mas
também a humanizar-se em plena crise. A Boa Nova de Jesus Cristo é inequívoca
em suas exigências éticas. Conhecer e amar são aspectos inseparáveis da atitude
cristã. A transitividade intrínseca do amor traduz-se em ação fraterna no seio
da comunidade cristã e em justiça, no instante da ação política do cristão na
sociedade. A Igreja de Cristo estruturou-se como comunidade fraterna, onde a
celebração da partilha do pão se fixava com seu mandamento fundamental: a
vivência do amor.
A palavra
"caridade" trás em si uma grandeza extraordinária no seu gênero, que
ora serve como sinônimo de amor, ora vai além. "Caridade" é uma
palavra que provém do latim, carus. O termo latino expressa a ideia de
"grande valor", algo fundamental que se torna virtude à medida
que o ser humano é capaz de impulsionar
a vontade pessoal a agir em prol do bem. No latim bíblico a palavra caridade
alude ao sentido da palavra grega agápe, que significa "amor".
Aqui, a palavra "agápe" transliterada do grego, tenta recuperar seu
sentido cristão específico, pois a palavra "ágape" comumente usada,
já tem o significado de "refeição que os primeiros cristãos tomavam em
comum". E mesmo neste sentido, de “refeição comum” onde percebemos a
extensão do ágape em sua preocupação com o "comum".
O grego, em sua riqueza
linguística, usava três verbos para expressar a palavra amor: eran, philen e
agapân.
Eran, do qual deriva o substantivo eros,
indica essencialmente o amor passional, o amor desejo, o amor paixão.
O verbo philein, expressava
o conceito de amizade e designava o amor desinteressado por alguém.
Agápe deriva do verbo agapân
que tem significados muito mais vagos, entre os quais o mais característico é o
de predileção, preferir, ter alguém em grande consideração. Pode ser traduzido,
por tanto, pela expressão "demonstrar afeto". Quando passou para a
linguagem do Novo Testamento, o termo agápe (do qual derivou o termo latim charitas) adquiriu um sentido novo imensamente rico:
passou a expressar toda a plenitude da revelação cristã, da nova relação que a
mensagem de Cristo estabeleceu entre um ser humano e outro. O amor de Deus e o
amor ao próximo são, com efeito, na mensagem cristã, dois aspectos do mesmo
agápe. Assim quando na Primeira Carta de João (1 Jo 4,16) lemos "Deus é
amor", lemos em latim "Deus caritas est". De fato, o
termo charitas, na maioria dos
casos, é utilizado quando o agápe expressa em seu mais alto nível o
conceito de amor. Desta forma, "caridade" e "amor" se
fundem num profundo significado, cujo o verdadeiro sentido não se encontra em
teorias, mas na prática. O "amor cristão" torna-se um "amor
caridoso" que procura dar assistência ao próximo ao qual ele está
intimamente ligado por um sentimento de afeto.
1.1 Deus é amor
Nas
Escrituras, caridade e amor são palavras praticamente sinônimas. Na história
cristã, "caridade" esteve quase sempre relacionada a gestos de um
paternalismo assistencial. Isto é, a caridade não se restringe a um sentimento,
mas a pratica desse sentimento de afeto por meio de gestos como a acolhida.
"Amor", por sua vez, é hoje um termo muito ambíguo, chegando mesmo a
confundir-se com erotismo ou com expressões de egoísmo. O amor de que falamos é
a própria essência de Deus, o amor-agápe, que por sua vez tornou-se caritas
em latim.
O
amor de Deus por nós é questão fundamental para a vida e coloca questões
decisivas sobre quem é Deus e quem somos nós. No entanto, para compreender a
essência do amor divino, o homem precisa purificar suas concepções
completamente humanas que tem do amor, e assim aceitar o mistério do amor
divino.
Qualquer
tentativa humana de entender Deus-amor, pode correr o risco de ser
reducionista, isto é, reduzirmos Deus a uma concepção humana de amor. O ser
humano nasce carente e dividido. Na fraqueza física e psicológica, necessita
ser cuidado com muito amor para ir construindo-se como ser capaz de amar. Ser
amor NÃO é a natureza dos humanos, mas se desenvolve à medida que bebemos da fonte
desse amor. Assim, somos capazes de amar quando somos amados. Ao contrário de nós, Deus é puro e só amor.
Não depende de nada e ninguém para amar. Ele é o próprio amar. Tudo nele é
efetivamente amor. O amor de Deus é unilateral, gratuito, anterior, proveniente,
generoso, sem precisar de reforço e resposta de nossa parte. Deus é a fonte
infinita e primária do amor. Ele não nos fez, porque se sentia sozinho, ou
precisava de nosso amor para se engrandecer. Deus fez a humanidade para com ela
comungar do seu amor, fazendo-nos dependentes desse amor.
O
amor é mais que um sentimento humano de afeto, é um sentimento congênito (Gerado simultaneamente) transcendente (Que transcende do
sujeito para alguma coisa fora dele) e imanente (Que está compreendido na própria
essência do todo) que aproxima em um estado de comunhão tanto o Criador de sua
Criação, isto é, Deus X Homem, quanto a Criação da própria Criação, Homem X
Homem. O amor é também uma decisão de agir em favor de outro, como quando Paulo
escrevendo aos Romanos diz: “Deus dá
prova de seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, quando
ainda éramos pecadores.” (Rm 5, 8) O amor ainda que congênito, só encontra
sua plenitude em Deus, a própria fonte, que continua a jorrar seu amor em nossos
corações através do Espírito Santo (Rm 5, 5; Jo 4, 13-14). Esse amor que jorra
de Deus é o selo que nos une mais intensamente, tanto ao Criador quanto as
criaturas. Por isso, em Romanos Cap. 8 v-v. 35, Paulo apresenta o amor
manifestado em Cristo, afirmando aos cristãos que nada devem temer, pois esse
selo é eterno e onipotente, pois “nem a
morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes, nem as coisas presentes ou
futuras, nem as forças, nem a altitude, nem a profundeza, nem outra criatura
qualquer poderá nos separar do amor que Deus nos manifesta em Cristo Jesus,
Senhor Nosso.” (Rm 8, 38-39).
Esse
Deus fonte de amor, também ama pessoalmente. O seu amor é um amor de eleição,
que entre todos os povos ele escolhe Israel e ama-o - mas com a finalidade de
curar, precisamente deste modo, a humanidade inteira. A história de amor de
Deus com Israel consiste, na sua profundidade, no fato de que Ele dá a Torah,
isto é, abre os olhos a Israel sobre a verdadeira natureza do homem e
indica-lhe a estrada do verdadeiro humanismo. Os relatos do Gênesis e do Êxodo
e de toda a Bíblia mostram o amor como motivo divino da criação e da libertação
do povo. E, se para o povo judeu a expressão privilegiada desse amor é a
libertação do Egito e toda sua caminhada com Deus através do deserto, para os
cristãos a revelação máxima dessa essência ativa e dinâmica de Deus é Jesus
Cristo. Em sua vida e em seus gestos históricos salvíficos a agápe de
Deus se faz carne numa entrega de si mesma (cf. Jo 3,16 e Rm 8,32).
João
no evangelho fala da intimidade entre o Pai e o Filho. Como grande perfeição, o
Filho é a imagem fidelíssima do Pai, e quem vê o Pai vê o próprio Filho (Jo 14,6-7). Este mesmo Filho
é o Verbo encarnado (Jo 1,14) e próprio amor encarnado. "Eis como
reconhecemos o amor: ele entregou sua vida por nós" (1 Jo 3,16). Nessa
perspectiva, Jesus ama os discípulos com o amor que o Pai tem por ele (cf. Jo
15,9); o Pai ama o Filho e põe todas as coisas à disposição dele (cf. Jo 3,35).
O Filho, por sua vez, mostra seu amor ao Pai pela sua obediência (cf. Jo
14,31). E nós, participamos desse amor,quando amamos ao Filho, ao Pai e ao
nosso próximo. Com efeito, ninguém jamais viu a Deus tal como Ele é em Si
mesmo. E, contudo, Deus não nos é totalmente invisível, não se deixou ficar
pura e simplesmente inacessível a nós. Deus amou-nos primeiro – diz a Carta
de João citada (cf. 4,10) – e este amor de Deus apareceu no meio de nós,
fez-se visível quando Ele “enviou o seu Filho unigênito” ao mundo, para que por
Ele, vivamos (João 3,16). Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a
amar-nos; por isso, também nós podemos responder com amor.
1.2 Jesus, o amor-encarnado.
Desde
que Jesus começou sua pregação por volta do ano 30 da era cristã, este Jesus de
Nazaré, cidade da Galiléia onde foi criado, arrastou em tono de si multidões.
Numa atitude incomum em seu tempo, Jesus dedicou igual atenção às prostitutas,
aos adúlteros, ladrões, e à odiada categoria dos cobradores de impostos,
símbolo da dominação romana sobre a
Palestina. Tinha Jesus, grande afeto
pelos marginalizados, que, pode ter sido
um dos motivos para reunir em torno de si multidões, já que a Judéia estava
repleta de marginalizados. A Judéia, por sua vez, era uma província turbulenta,
sob o domínio romano, que se destinava a governadores de baixa categoria, como
Pôncio Pilatos, presente na crucificação de Cristo.
Procedente
do Norte rural de Nazaré, Jesus chegou à Judéia onde reuniu em torno de si uma
comunidade de discípulos, um círculo reduzido com a missão especial de proclamar
a chegada do reino de Deus sobre a terra, manifesta em sua própria presença e
em seus ensinamentos. Os primeiros discípulos eram judeus devotos, que
estudavam as figuras e imagens do Antigo Testamento, sobretudo a cerca do
Messias, "Ungido" por Deus, Christos em Grego. Jesus se
autoproclamava o Ungido de Deus, em certas frases se autointitulava o Filho de
Deus. Os discípulos logo o reconheceram como o messias anunciado em textos do
Antigo Testamento (como Isaías 53), e passaram a seguir seus ensinamentos,
chamando-o de Rabi (mestre). O próprio Jesus sendo judeu, nunca negou e opôs à
Lei Judaica, pelo contrário, ele mesmo disse que não veio para "revogar a
Lei ou os Profetas", "mas levá-los à perfeição" (Mt 5,17).
Contudo, o alto clero saduceu, via uma incompatibilidade nas tradições da Lei,
com os ensinamentos de Cristo. Enquanto que a lei dizia "amarás o teu próximo e odiarás o teu
inimigo", Jesus dizia "amai os vossos inimigo e intercedei por
aqueles que vos perseguem" (Mt 5,43-44). Esta e outras divergências culminaram com a
crucificação de Jesus no monte chamado Gólgota. Mas sua morte não foi o fim,
porque no terceiro dia ressuscitou como ele próprio havia predito, e cujos
textos do Antigo Testamento diziam a respeito do Messias (Lc 24, 25-27). Com sua
ressurreição, Jesus Cristo não só prova a sua divindade, quanto preenche de
certeza seus discípulos a respeito da crença na vida eterna. A ressurreição de
Cristo, portanto, torna-se o alicerce e o combustível dos primeiros cristãos a
"evangelizarem" o mundo inteiro com a boa-nova, missão dada pelo
próprio Cristo Ressuscitado em sua ascensão aos céus (cf. Mc 16, 14-20).
Certamente
a figura histórica de Jesus, por si só, chama atenção de milhares de
pesquisadores. João, em seu evangelho e suas cartas, se propõe desvendar para
os cristãos onde residia o segredo maior de Jesus: ser Filho que vive em
comunhão com Deus Pai e que assumiu a carne para habitar entre nós. “Ele,
embora subsistindo como imagem de Deus, não julgou como um bem a ser conservado
com ciúme sua igualdade com Deus, muito pelo contrário: ele mesmo se reduziu a
nada, assumindo condição de servo e tornando-se solidário com os homens”
(Fp 2,5-7). Ao reconhecermos Jesus como Deus-encarnado, sendo Deus-amor,
podemos concluir que Jesus é o amor-encarnado?
Para saber em que consiste o amor de Deus, é
necessário conhecer Jesus, sua vida, seus ensinamentos, sua proposta. Suas
muitas palavras e parábolas revelam sua maneira de agir, que é o “espelho” do
Ser do Pai. Todos os atos de Jesus dão testemunho do amor do Pai (Jo 8,28); se
ele cura, cura porque ama, se tira os pecados, perdoa porque ama e quer a
Salvação daquela pessoa. Quando é criticado por seus gestos de compaixão, Jesus
responde: “prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Mt 9,13). À vista dos homens, sua vida é toda doada,
não somente a alguns amigos, mas a todos, pois passa fazendo o bem no desapego
total e dando atenção às multidões, inclusive, e sobre tudo, aos mais
desprezados e aos indignos. Jesus Cristo é, na concepção cristã do século I, o
revelador do amor de Deus: “Nisto se manifestou o amor de Deus por nós: Deus
enviou o seu filho único ao mundo para que vivamos por ele” (1 Jo 4,9).
Jesus
não é apenas o “espelho do Pai”, e sua vida não se reduz a refletir o “amor do
Pai”. Na concepção joanina, Jesus é o próprio amor (cf. 1Jo 3,16) que dá sua
vida por nós. Em tudo Jesus se fez semelhante aos homens, exceto no pecado, e é
pelo fato, de ter assumido a condição humana que Jesus demonstra que é possível
vivenciar o mandamento do amor “amai-vos uns aos outros assim como Eu vos
tenho amado” (Jo 15,12). Ele próprio é a medida do amor, medida pela qual
Deus Pai encontra satisfação (cf. Mt 3,17).
1.3 Discípulos do Amor
O
Novo Testamento reserva o nome de discípulo àqueles que reconheceram Jesus por
seu Mestre. Primeiro mencionam-se os Doze e depois todos aqueles crentes que
conheceram ou não Jesus durante sua vida terrestre. Embora aparentemente fosse
igual aos doutores judeus de seu tempo, Jesus tinha para com seus discípulos
exigências únicas. Jesus não exigia aptidões intelectuais nem mesmo morais.
Jesus pedia apenas a adesão ao seu chamamento (Mc 1,17-20) que, por trás, era o
do Pai, que “dá” a Jesus os seus discípulos (Jo 6,39; 10,29; 17, 6.12).
O chamado de Jesus Cristo a cada
apóstolo representando, sobretudo, o chamado a cada cristão, nos apresenta a
imensa responsabilidade que se adquire ao seguir os passos do Grande Mestre.
Aos discípulos, Cristo pede total dedicação, tal, que eles precisam largar
ouro, prata e tudo aquilo que os impedem de se dedicarem exclusivamente (Mt 10,
9) a pratica do amor, “pois é pelo fato
de vos amardes uns aos outros que todos conhecerão que sois meus discípulos”
(Jo 13 ,35). O seguir dos apóstolos não é obrigação, é demonstração de amor,
pois assim como Jesus dedicou amor igual aos que fazem a vontade do Pai (Mt
12,50), ele exige de seus discípulos a mesma medida,a ponto de largarem tudo
(como ele próprio fez) para o seguirem (Mt 10,37). Jesus não oferece recompensa
imediata e terrena a ninguém, e ainda reforça que “no mundo tereis aflições. Vós tereis de sofrer no mundo. Mas tende
coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16, 33). Portanto, o sofrimento de Cristo é
Sua vitória, e Sua vitória é nossa esperança, e a esperança é garantia de nossa
recompensa (Rm 5,3s): um lugar no Reino dos Céus. As inúmeras parábolas
demonstram que para o seguimento de Cristo é preciso dedicação e abnegação,
esta última negligenciada nos dias de hoje, mascarada por um “cristianismo
consumista” que busca saciar-se dos frutos (graças) oferecidos por Deus, como
Ele mesmo afirmou: “vós me procurais, não
por causa dos sinais que vistes, mas porque comestes pão e ficastes
satisfeitos. Trabalhai não pelo alimento que se estraga, mas pelo alimento que
dura até a vida eterna”.
De
acordo com o evangelho de João, antes de Jesus se manifestar publicamente,
antes do primeiro milagre, André irmão de Simão Pedro ouviu o testemunho de
João Batista e seguiu Jesus (Jo 1, 40-42). André apresentou Jesus como
Messias a seu irmão Simão Pedro que não esperou que Jesus se manifestasse,
apenas creu no testemunho de seu irmão. O exemplo de André e Pedro demonstra
exatamente que o seguir Jesus depende unicamente da fé, sendo assim, a fé vem
antes das obras.
Filipe
foi o primeiro a seguir o chamado direto de Jesus Cristo (Jo 1, 43-44),
entretanto, mesmo não tendo visto nenhum sinal acreditou e o seguiu indo além,
chamando Natanael a também seguir o Cristo. Temos o exemplo daquele que creu
por que foi chamado e crendo foi testemunha.
Natanael,
porém, não crendo de imediato, muito incrédulo, foi ao encontro de Jesus, não
pela fé, mas por ouvir o convite de Filipe. Entretanto, ao ouvir as palavras de
Jesus a seu respeito, creu. Ele teve fé nas coisas pequenas, como afirmou
Cristo: “crês somente porque afirmei que
te vi debaixo da figueira? Verás ainda coisas maiores”. (Jo 1,50).
Concluímos,
portanto, que há pelo menos três tipos de pessoas que aderem à fé em Cristo: os
que creem no testemunho dos outros (André e Simão Pedro), os que creem porque
tiveram um encontro com Cristo ainda que sem sinais (Filipe) e os que precisam
de sinais, ainda que pequenos para crerem (Natanael).
Assim, ninguém segue
Cristo por si só, mas somente aqueles chamados na fé (Jo, 14,6). Seguir Jesus
se trata de uma ruptura total, que faz de seus discípulos privilegiados. Seguir
Jesus é calcar sua conduta na dele, ouvir suas lições e conformar a vida com a
do Salvador (Mc 834s; 10,21.42-45; Jo 12,26). O discípulo de Jesus está
portanto chamado a partilhar do próprio destino do Mestre: levar sua cruz (Mc
8,34) beber seu cálice (Mc 10,38s), receber enfim dele o Reino (Mt 19,28s.) Por
isso, já desde agora, quem quer que lhe dê um simples copo dágua na qualidade
de discípulo não perderá sua recompensa (Mt 10,42).
A
preocupação de Jesus com seus discípulos, não está nos seus ensinamentos, mas
na responsabilidade que os discípulos têm de praticá-los. Os ensinamentos de
Jesus se baseiam na Lei do Amor, cujo o píncaro é o mandamento “amai-vos uns
aos outros assim como eu vos tenho amado” (Jo 15,12). Os discípulos
conhecem Jesus, e o reconhecem, por consequência conhecem o Pai (Jo 14,7). O
Pai é amor, e Jesus imagem fidelíssima do amor. Jesus não exige grandes provas
de fidelidade de seus discípulos, ele só exige a observância de seus
mandamentos, isto é, amar uns aos outros (jo 13,34). A própria observância do
mandamento, já é por si só um ato de amor (Jo 14,21). A Pedro, Jesus pergunta
três vezes: “Tu me amas?”. O amor de Pedro por Jesus, é o mesmo que ele deve
ter pelas ovelhas de Cristo (Jo 21, 15-17), pois Jesus, “tendo amado os seus
que estavam no mundo, amou-os até a consumação” (Jo 13,1), isto é, o amor
de Cristo por seus discípulos foi ao extremo, e é esse mesmo extremo que Cristo
pede aos seus, pois “é pelo fato de vos amardes uns aos outros que todos conhecerão(...)”
que são discípulos de Jesus (Jo 13,35).
1.4 O amor, via de Salvação.
Sabemos
que o anúncio do "evangelho" se deu primeiramente por via oral, onde
a ressurreição era anunciada primeiramente. A Ressurreição de Cristo é o ponto
central da fé cristã, porque, quem nela não crê, dela não participa (Jo 11,25).
Paradoxalmente, a ressurreição é também a fonte de esperança do cristão, pois
se ele espera com impaciência a transformação final de seu corpo de miséria em
corpo de glória (Rm 8,22s; Fp 3,10s.20s.),
é porque ele já tem as garantias desse estado futuro (Rm 8,23). Tendo
Jesus sido crucificado, Deus o ressuscitou e por ele trouxe a nós a salvação.
Esse é o ensinamento de Pedro aos judeus (At 3,14s) e sua confissão diante do
sinédrio (4,10), o ensinamento primordial dos primeiros cristãos. Tendo o Pai
entregue "Seu Filho Único" (Jo 316), a ressurreição do Filho
do Homem, sela o amor de Deus pela humanidade, pois Jesus "ressuscitou
dos mortos como primícias do que morreram. Porque a morte veio por um homem
e ressurreição dos mortos veio por um
homem também. Como todos morreram em Adão assim reviverão todos em Cristo"
(1 Co 15,20-22). Jesus se torna a porta (Jo 10,9) de acesso a Paraíso,
ao Reino de Deus (Sl 118, 19-20).
O
tema da Salvação permeia toda a Bíblia. A questão da Salvação está em Gênesis,
na própria criação do homem. Deus, o Criador de tudo, nos fez seres puros (Gn 1,31) a sua "imagem e
semelhança" (Gn 1,26), isentos de qualquer pecado, mas não incorruptíveis.
Sendo puros, não havia pecado em nós até que Adão e Eva desobedeceram a Deus e
pecaram comendo do fruto proibido. Com o pecado, o homem já não mais era puro,
como Deus, porque em Deus não há pecado. Sendo o homem pecador, já não havia
mais lugar para ele no Paraíso, na presença imaculada de Deus, assim foi
expulso do Paraíso. Um dos primeiros sintomas do pecado estava no fato deles
não conseguirem se manter diante da presença de Deus (Gn 3,8). Em seguida,
quando Deus questiona Adão e Eva, ambos procuram se justificar, ao invés de se
lamentarem e pedirem perdão (Gn 3, 11-13). O pecado, portanto, destruiu toda a
paz e harmonia, gerando os primeiros conflitos e tensões generalizadas entre o
Homem e Deus, entre o homem e a mulher, entre o Homem e as criaturas. Desde
então, foi negado a humanidade o acesso ao Paraíso e a Árvore da Vida (Gn
3,23s), e principalmente a perda da
intimidade divina. A partir de então a Salvação se torna o futuro retorno da
humanidade ao Jardim Celeste, onde está a árvore da vida (Ap 22,2).
A
grande Mensagem de Deus é História da
Salvação. Desde quando Deus se inseriu na história humana com a vocação de
Abraão "a fim de fazer dele um grande povo" (cf. Gn 12, 2-3), de modo
especial, houve a Promessa da Salvação e de um futuro Salvador. Para isso,
ensinou, por meio de Moisés e dos profetas, a reconhecê-lo como único Deus vivo
e verdadeiro, Pai providente e justo juiz, e a esperar o Salvador prometido.
Assim, escolheu um Povo e com ele fez uma Aliança. A Aliança ratificada pelo
Povo no Sinai, é a prefiguração da "Nova Aliança" anunciada por
Jeremias (31,31) que se cumpriu na "Santa ceia", mediante o cálice do
sangue de Cristo derramado por todos nós (Lc 22,20). Esta Nova Aliança, é
portanto, a participação do corpo e sangue de Cristo, via pela qual encontramos
a Salvação.
Participar
do corpo e do “corpo” e do “sangue” é fundamental para o cristão. Paulo noz
fala do “corpo de cristo” (1 Cor 12,27) como a Igreja, sendo Jesus a própria
cabeça (Ef 5, 23). Portanto, não há salvação para aqueles que não participam do
corpo, e não há salvação para os que estão afastados da Igreja. O “sangue de
Cristo” mostra o verdadeiro sentido do sacrifício na cruz. Pois é preciso tomar
a cruz de Cristo, e morrer por ele (Mt 10-38-39). Essa morte, é a morte do
pecado para nascer para a vida, a morte pelo batismo que nos leva a conversão.
Para participar do corpo e do sangue de Cristo é preciso, sobretudo, ser
discípulo, isto é, aceitar a autoridade de Jesus como único e verdadeiro Mestre
e Senhor (Jo 13,13) de quem procede toda a verdade (Jo 14,6), e amá-lo
observando os seus ensinamentos (Jo 14,21). Se reconhecemos Jesus como nosso
Mestre, devemos procurar à perfeição (2 Cor 13,11), pois “o discípulo não é
mais que o mestre. Mas todo discípulo quando chegar à perfeição, será como seu
mestre” (Lc 6,40).
2 Imagem e semelhança
Fazendo uma pesquisa na
Bíblia baseada nos três fundamentos do amor: acolhida, perdão e comunhão, encontra-se uma extensa lista de
referência que vai desde Gênesis com Adão, passando por Abel, Abraão, Noé, Moisés,
indo até João no livro do Apocalipse. Esta lista extensa serve como uma prova
do amor de Deus para seu povo (Israel), e depois com a vinda de Jesus, para
todos os povos. O Amor de Deus se inicia em Gênesis, quando Ele por amor “criou o Homem à sua imagem”, designando
o homem desde o princípio a ser amor. Entretanto, o homem, ainda incapaz de
perceber a razão de sua existência, nega sua única condição de se subordinar a
Deus, obedecer ao seu projeto de vida e fraternidade, querendo decidir por si
mesmo o que é bem e o que é mal (comer o fruto da árvore do bem e do mal). O
homem tendo desobedecido a Deus dificultou a tarefa de ser imagem límpida, como
um espelho de Deus que é o próprio Amor. O homem, portanto, passou a NECESSITAR
RELIGAR os três fundamentos do amor.
No AT (Antigo Testamento)
é difícil ver o povo de Deus tentando viver a plenitude do amor, pois essa
plenitude só pode ser entendida como o próprio Jesus diz:
“Mas
o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai vos enviará em meu nome ele vos ensinará
todas as coisas e vos fará lembrar o que eu vos disse.”
Portanto, é somente
através do Espírito Santo de Deus agindo em nós que podemos entender que o
“amor pleno” só pode ser amado se vier acompanhado de uma convicta esperança de
ressurreição, considerando que Jesus veio ser o primogênito dos ressuscitados.
É essa convicta esperança que nos dá a certeza das bem-aventuranças do Sermão
da Montanha (Mt 5, 3-12) e que nos fortalece para suportarmos as mais densas
perseguições e sofrimentos em nome do Cristo Ressuscitado. Já no AT a Boa-Nova
da Ressurreição não havia sido revelada por Cristo, o que acaba criando uma
barreira no entendimento absoluto do amor. O que os antigos têm são os exemplos
do amor de Deus para com seu povo, acolhendo, perdoando e comungando com ele.
Já com os ensinamentos de
Jesus, o povo passa a aprender que não basta amar os que o amam, mas é preciso
amar também os inimigos e rezar por aqueles que os perseguem (Mt 5 43-48). A
partir dessa idéia de amor universal, Jesus passa a ensinar os três fundamentos
do amor sendo ele mesmo o exemplo de como é possível ao homem se tornar a
“imagem e semelhança” viva de um deus que é o próprio Amor.
1.
O grande mandamento
A fim de possibilitar ao
povo formar uma relação social onde todos possam viver com liberdade e
dignidade, Deus instituiu os Dez Mandamentos, (Ex 20, 1-17;), porque estes
mandamentos não deixam construir uma sociedade baseada na escravidão que leva a
morte, além de conduzirem o coração do homem ao grande mandamento que só virá
com Cristo.
O Decálogo, nome dado aos
Dez Mandamentos, foi escrito por Deus em duas tábuas de pedra e mantido pelos
hebreus na Arca. Divido em duas tábuas, cada tábua possuía cinco dos
mandamentos. Atribui-se que os cinco primeiros mandamentos estão voltados para
o relacionamento com Deus e os outros cinco com o próximo. Portanto: amar a
Deus sobre todas as coisas; não fazer nem adorar imagem ou escultura; não tomar
o nome de Deus em vão; guardar o sábado; honrar pai e mãe constituem a
primordial relação com Deus. Os outros cincos: não matar; não adulterar; não
furtar; não levantar falso testemunho; não cobiçar o que é do próximo, colocam
o homem numa relação mais intima com o próximo.
Jesus, porém, sintetiza os
dez mandamentos em dois: “amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de
toda a tua alma e de toda a tua mente.” e o segundo, “Amarás a teu próximo como
a ti mesmo.” (Mt 22, 34-40;)
(Mt 22, 37;) “Amarás o
teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma e de toda a tua mente.”
Jesus afirma que este é o
maior mandamento, pois ele é a fonte de todo o amor, amor que é preciso para
que se cumpra o segundo mandamento. Analisando a primeira tábua do Decálogo
temos os mandamentos relacionados a Deus. Amando a Deus sobre todas as coisas,
isto é, na dor, na alegria, e em todos os momentos, sobre todas as
circunstancias estamos aptos a amar o próximo que é a imagem de Deus.
Não fazer imagem nem
adorar imagem, hoje pode se atribuir às pessoas presas a objetos pessoais,
dando um valor tão forte aquele objeto que esquecem até que existe Deus e as
outras pessoas. Há pessoas que chegam brigar por algo que esvaecerá com o
tempo, e há pessoas que criam uma barreira entre Deus e si mesma por estarem
presas a objetos pessoais.
Tomar o nome de Deus em
vão, é o mesmo que um desrespeito com alguém amado desconsiderando aquela
pessoa; da mesma forma que temos respeito pelo nome de quem amamos, quanto mais
devemos ter com o nome do nosso próprio Deus.
Guardar o sábado é
reservar um dia especial há Deus. Não reservamos um dia ao menos na semana para
passarmos com a pessoa que amamos? Pode ser ela o marido, o filho, uma visita
na casa da avó ou tio, não importa, é um dia reservado a alguém que amamos.
Guardar o sábado é reservar um dia para passar na presença de Deus, indo
adorá-lo nas igrejas do mundo inteiro, ou se reunir com um grupo e orar e
adorá-lo em qualquer lugar.
Honrar pai e mãe é honrar
aquelas pessoas que nos amam e cuidaram de nós na infância, a fase mais
sensível de nossas vidas, nos acolhendo, nos protegendo, enfim, nos educando,
por isso está relacionado na primeira tábua, porque honrar pai e mãe é honrar
aqueles que nos iniciaram no caminho de Deus. (Is 49, 1;)
(Mt 22, 38;) “Amarás o
teu próximo como a ti mesmo.”
Certamente, Jesus ao
instituir esse mandamento já sabia o amor próprio que cada um tem. No mundo
atual, talvez, as pessoas levem mais ao pé da letra esse mandamento, não amando
o próximo, mas amando a si mesmo demais, a ponto de esquecer o próximo ou até
mesmo humilhá-lo por ser superior. “Amar o próximo como a ti mesmo” consiste em
observar os outros cinco mandamentos:
Não matar, como o próprio
Jesus disse (Mt 5, 21-26;) é muito mais que simplesmente tirar a vida do
próximo, mas é também matá-lo em seu coração, cobrindo o espaço onde o próximo
habitava por ódio. Matar o próximo é todo tipo de atitude que acaba com a
esperança do próximo, é toda atitude discriminatória, por isso, Jesus enfatiza
a necessidade de reconciliar-se.
Não cometer adultério é
mais que simplesmente não trair o esposo ou a esposa, mas é não pensar em
trair, é amar ao extremo, do mesmo modo, não cometer adultério pode estar
relacionado com o relacionamento entre amigos, onde cometer adultério é trair a
confiança. Segundo os ensinamentos de Jesus, ele mesmo já não chama os apóstolos
de servos, mas de amigos, enfatiza assim a importância da amizade leal entre as
pessoas. (Jo 15, 15).
Não furtar ganha um
sentido mais amplo se pensarmos no ato de não procurar prejudicar alguém para
lucro próprio, pois furtar é lesar alguém a seu próprio favor. Alguém que ama,
certamente não procura prejudicar o amado, por isso, esse mandamento também se
coloca diretamente numa relação de amor. O mesmo se dá ao nono mandamento, “não
levantarás falso testemunho”, certamente, porque quem ama não quer prejudicar e
por isso utiliza somente a verdade a favor do próximo e não contra.
O último mandamento está
relacionado em aceitar as graças de Deus em seu favor e em favor do próximo.
Quem ama o próximo consegue ficar alegre com as graças de Deus na vida do
outro, e não pensa e possuir as mesmas, ou até, pensa em obter pra si, mas
aceita as graças de Deus na própria vida dividindo a alegria com o próximo.
Talvez, no mundo atual, onde a desigualdade financeira reina, ver alguém com
algo melhor e aceitar a própria pobreza pareça tarefa difícil, mas para quem
alimenta o coração no amor de Deus, é uma tarefa fácil.
Quando Jesus institui esse
grande mandamento, amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si, ele
estava resumindo todo o Decálogo, e dando a ele uma abertura maior, não o
restringindo as palavras do livro do Êxodo, mas dando ao fiel a liberdade de
escolher como viver esses mandamentos, desde que atuados pelo amor.
2.
DEUS É AMOR
O mais belo mistério
revelado no NT (Novo Testamento) é a essência de Deus: “Deus é Amor”. (1Jo 4,8). Do mesmo modo, para o apóstolo Paulo, o
amor está acima de tudo ultrapassando os dons, pois os dons dependem do amor,
não podem substituí-lo, e sem ele nada significam (1C 13-1-13). O amor é a
fonte de qualquer comportamento verdadeiramente humano, pois leva a pessoa a
discernir as situações e a criar gestos oportunos, capazes de responder
adequadamente aos problemas. "Se Deus é imortal, do mesmo modo é o Amor, o
único que ficará até o fim dos tempos e depois do fim dos tempos, do mesmo modo
o Amor é o “Alfa e Ômega”, o Primeiro e Último, o Principio e o Fim” (Ap 22, 13), portanto desde a criação do mundo o Amor esteve presente e por
isso é eterno e transcende tempo e espaço, porque é a vida do próprio Deus, da
qual o cristão já participa.
Considerando toda a fé
cristã, Jesus é o próprio Deus encarnado, o Verbo que segundo João “se fez carne e habitou entre nós” (Jo
1, 14). Portanto, Jesus que é o próprio Deus encarnado, mostra que é possível
viver esse “Amor perfeito” em sua máxima essência. Temos assim um exemplo
encarnado de como vivenciar o Amor; basta ao homem procurar imitar Jesus em
todas as suas atitudes, pois este é a imagem perfeita de Deus Pai (Mc 1, 11).
Paulo vivenciou isso, buscou imitar a Jesus e recomendou aos cristãos que o
imitassem, para que buscassem imitar o próprio Cristo (1C 11, 1). Assim, sendo
imitadores de Cristo, somos por excelência imitadores do Amor, o que nos
garante estar tentando fazer o Bem. Tentar fazer o Bem é um passo enorme para o
cristão, pois está polindo a alma para ser imagem mais nítida do próprio Cristo
que é o Amor encarnado. De fato, voltamos ao Éden, onde livres do pecado,
amando a Deus sobre todas as coisas, somos perfeitas imagens e semelhança de
Deus.
Seguindo a mesma linha de
pensamento, em Colossenses cap. 1 vv. 15-17 Paulo nos apresenta Cristo como
imagem do Deus invisível, Primogênito com referência à criação inteira, pois
estando em Deus na Trindade Santa, tudo foi nEle criado, por Ele criado e para
Ele, isto é, tudo foi feito no Amor, por Amor e para o Amor que é o próprio
Deus Uno e Trino. Se tudo foi criado no amor, então todas as coisas são boas
(Gn 1 4), e se tudo foi criado por amor, todas as coisas são queridas (amadas),
(incluindo os seres inanimados ex. pedras) e, se criadas para o amor, todas as
coisas devem corresponder com amor. Nós, seres humanos, fomos criados nessa
trindade de amor para vivermos plenamente no amor, amando não somente nossos
irmãos humanos, mas também toda a criação divina. Portanto, o amor é mais que
um sentimento humano de afeto é um sentimento congênito (Gerado simultaneamente) transcendente (Que transcende do sujeito para alguma coisa fora
dele) e imanente (Que está compreendido na própria essência do todo) que
aproxima em um estado de comunhão tanto o Criador de sua Criação, isto é, Deus
do Homem, quanto a Criação da própria Criação, Homem X Homem. O amor é também
uma decisão de agir em favor de outro, como quando Paulo escrevendo aos Romanos
diz: “Deus dá prova de seu amor para
conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, quando ainda éramos
pecadores.” (Rm 5, 8)
O amor ainda que
congênito, só encontra sua plenitude em Deus, a própria fonte, que continua a
jorrar seu amor em nossos corações através do Espírito Santo (Rm 5, 5; Jo 4,
13-14). Esse amor que jorra de Deus é o selo que nos une mais intensamente,
tanto ao Criador quanto as Criaturas. Por isso, em Romanos Cap. 8 v-v. 35,
Paulo apresenta o amor manifestado em Cristo, afirmando aos cristãos que nada
devem temer, pois esse selo é eterno e onipotente, pois “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes, nem as coisas
presentes ou futuras, nem as forças, nem a altitude, nem a profundeza, nem
outra criatura qualquer poderá nos separar do amor que Deus nos manifesta em
Cristo Jesus, Senhor Nosso.” (Rm 8, 38-39).
2.1
Discípulo de Cristo, Discípulo do Amor
“Eu
vos dou um novo mandamento que vos amei uns aos outros. Assim como eu vos tenho
amado vós deveis também amar uns aos outros. É pelo fato de vos amardes uns aos
outros que todos conhecerão que sois meus discípulos.” (Jo 13, 34-35)
O NT reserva o nome de
discípulo àqueles que reconheceram Jesus por seu Mestre. Primeiro mencionam-se
os Doze e depois todos aqueles crentes que conheceram ou não Jesus durante sua
vida terrestre. Sobretudo, ser discípulo de Jesus é imitar seus passos (1Cr 11,
1), e vivenciar o mesmo amor que ele viveu a favor do próximo.
A missão dos discípulos é
levar esse amor incondicional até os confins da terra (Is 49, 6), partindo da
fonte do amor que é Jesus. A garantia de que estão sendo verdadeiros discípulos
está em amarem como o próprio Cristo amou. Portanto, ser discípulo é se
sujeitar a Acolher, Perdoar e Comungar com o próximo. Amar ao próximo como Jesus amou é uma
medida dura que exige do cristão determinação e uma abdicação de uma vida de
luxo para viver a mesma humildade de Cristo. É por isso que Jesus afirma que é
através do amor ao próximo que reconhecerão que são discípulos, pois Jesus veio
viver a máxima do amor sendo manso e humilde de coração (Mt 11, 29). Mas o jugo
que Jesus carregou é leve, e a mesma medida é dada aos que querem segui-lo,
pois o jugo carregado com Amor se torna leve. Por fim, ser discípulo de Cristo
é dar-se como oferta para Deus, como o próprio Jesus disse posto em prova
discutindo sobre a questão do pagamento de tributo e revelando assim, numa
simplicidade, qual deve ser nossa oferta diante de Deus (Mt 22, 15). Respondendo: “Daí, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Jesus
ensinou que se Deus é Amor, devemos retribuir a Deus com Amor.
2.2
O amor não é amado
Os quatro evangelistas se
esforçam em mostrar a preocupação de Jesus para que seus discípulos (aqui no
caso todos os crentes, mesmo depois da sua ressurreição) vivenciassem o amor, e
não somente ficasse nas palavras (1 Jo 3, 18). Esse esforço demonstra a
necessidade congênita de praticar o amor. A dificuldade do ser humano, porém,
encontra-se em aceitar que os irmãos sendo “imagem e semelhança” de Deus também
são imagens do amor e necessitam serem amados. Fechando-se então em um casulo
de egoísmo. O homem, apesar de sentir necessidade de amar e ser amado procura
resolver esse conflito íntimo, muitas vezes encontrando em animais ou objetos a
solução de sua necessidade de amar, e entregam seu amor, que deveria ser a Deus
e aos irmãos que são “imagem e semelhança”, para objetos e animais, que jamais
poderão suprir o vazio que se criou no coração. A resposta para isso está no
medo da relação com outros seres humanos. Fechados nesse casulo de egoísmo, o
homem sente medo de se decepcionar e procura evacuar esse amor inato em
criaturas que não poderão decepcioná-lo, isto é, não o ameaçam
sentimentalmente. Mera ilusão, pois desta forma estão se enfraquecendo, criando
um abismo cada vez mais profundo entre Deus, que é a fonte inesgotável de amor,
e a si mesmo, reflexo desse amor.
Através da parábola do
juízo final (Mt 25, 31-40) Jesus demonstra que é na prática do amor com os
irmãos que estamos amando-o. Desta forma, o amor ao próximo é análogo (pois é
similar por certo aspecto e exerce a mesma função, sendo de origem e estrutura
diferentes) com o amor a Deus e homólogo (pois tem a mesma posição relativa,
proporção, valor ou estrutura correspondente), pois “quem não ama seu irmão, a quem vê, não é possível que ame a Deus, a
quem não vê” (1 Jo 4, 20). “Portanto,
quem ama a Deus, ame também seu irmão”, isto é, a prática do amor ao
próximo é uma ponte que liga ao amor de Deus, pois o amor de Deus se manifesta
visualmente na figura reflexível do irmão.
O drama do amor se
desenrola não por ocasião do contato com Jesus, mas na própria pessoa de Jesus
onde se tem a revelação concreta do amor. À vista dos homens, sua vida é toda
doada, não somente a alguns amigos, mas a todos, pois passa fazendo o bem no desapego
total e dando atenção às multidões, inclusive, e sobre tudo, aos mais
desprezados e aos indignos. Por fim, escolhendo gratuitamente os que ele quer
para fazer deles seus amigos.
É no sentido de doação ao
próximo que o amor encontra seu píncaro (Jo 3, 16), pois Jesus desde o
princípio “embora, subsistindo como
imagem de Deus, não julgou como um bem a ser conservado com ciúme sua igualdade
com Deus, muito pelo contrário: ele mesmo se reduziu a nada, assumindo condição
de servo e tornando-se solidário com os homens” (Fl 2, 6-7), cumprindo
assim a vontade do Pai (Jo 6, 38). “E
quem me enviou está comigo, e não me deixou só, porque sempre faço o que lhe
agrada.” Isto é, Jesus abriu mão de sua divindade vindo amar o homem,
cumprindo assim a vontade do Pai. Nós também devemos aprender com Jesus a amar
o próximo, que também é amor, mas não é amado. Desta forma amando o próximo
fechamos um triângulo: a base é o amor de Cristo pelos os que são amados por
Deus, o lado esquerdo é a observância dos mandamentos que nos leva a ser amado
por Deus, o terceiro lado, é o amor de Deus pelos que cumprem seus mandamentos.
(Jo 14, 21). “Quem recebe os meus
mandamentos e os observa, esse me ama; e o que me ama será amado por meu Pai, e
eu também o amarei e me mostrarei a ele.”
Deus
Nós
Cristo
2.3
O fruto do amor
O amor é como uma videira.
Jesus é a videira e nós somos os ramos (Jo 15, 1-11). Se Jesus é o amor,
permanecendo nele, sendo ramos dele, nosso fruto deve ser o amor. Assim como é
da raiz que vem os nutrientes necessários para que os ramos produzam bons
frutos, é de Cristo que vem a força necessária para o nosso crescimento, afim
de que produzamos bons frutos.
Toda árvore para dar o
fruto precisa ser regada, precisa esperar a água da chuva para germinar e crescer.
Desde o Éden, o homem descobriu a importância de rezar. Neste mesmo jardim,
para que surgisse a vegetação, era preciso também que Deus tivesse feito
chover. O homem, por si só não pode dar o fruto, mas como Elias, ele precisa
orar, para que, graças à chuva, “a terra dê seu fruto” (Tg 5,17s). Portanto é a
oração que irriga o coração de Cristo para nos abençoar com tudo o que
precisamos para dar bons frutos.
Se nossa oração nos liga
intensamente a videira que nos irriga com mais amor, o lavrador (Deus Pai) nos
poda com a finalidade de darmos novos frutos (Jo 15, 1-2). Como os povos
antigos ofereciam a Deus os produtos (frutos) da terra, do esforço e trabalho
deles, nossos frutos devem ser um sinal de graças por Deus cuidar de cada um de
nós como galhos, galhos queridos. Mas Deus não exige de suas criaturas frutos
sem lhes dar o meio. É através de constante oração, em busca de união em Cristo
que podemos dar bons frutos, e o nosso fruto é o resultado de nossas ações (Rm
6, 20-23). Assim, sendo ramos de Cristo, a videira que produz amor, nossos
frutos são de santificação e o resultado é a vida eterna, pois não se pode
colher uvas de espinheiros, nem figos de urtigas (Mt 7, 16), e pelos nossos
frutos Deus nos reconhecerá.
CONSIDERAÇÕES
GERAIS
Neste primeiro momento vimos como Deus se
constitui como Amor e como nós sendo “imagem e semelhança de Deus” somos
imagens e semelhança do Amor. Também vimos que o Decálogo é constituído de
“regras de conduta” quanto como devemos amar, tendo uma maior liberdade com a
Boa-Nova de Jesus Cristo que assumiu a forma perfeita do Amor (Jo 1, 14). Além
disso, vimos como o Amor deve ser amado e qual é o papel do verdadeiro Cristão
que busca se tornar uma imagem mais nítida do Amor.
Partindo desse ponto
estaremos iniciando um estudo individual sobre cada face apontando suas
principais características e como elas servem para constituir o “AMOR UNO e
TRINO”. Apesar de iniciar o estudo pela
“acolhida”, devemos ter sempre em mente que o amor não tem início, nem meio e
nem fim, ele é INFINITO como o próprio Deus. Portanto, a ordem aqui expressa
servirá apenas como base pedagógica a fim de facilitar a compreensão da
TRINDADE do AMOR.
Acolhida
CONCEITOS
GERAIS
Partindo do conceito da
palavra, “acolhida” é a recepção que se faz a alguém, refúgio, proteção: “Buscou acolhida entre os amigos”.
Partindo do mesmo radical ainda temos acolher
e acolhedor. Acolher é receber
alguém, hospedar, agasalhar: “Acolheu-me
de braços abertos”. Acolher ainda quer dizer aceitar, receber: “Acolheu com agrado as nossas sugestões”. Acolhedor
está relacionado com o que ou o que dá boa acolhida, hospitaleiro.
Entender o sentido da
palavra abre a nossa mente a entender como o ato de acolher está inteiramente
ligado ao ato de amar. O Evangelho de São Lucas inicia-se narrando como Deus
acolheu as orações de Zacarias e se compadecendo dele e de sua esposa o
agraciou com um filho: João Batista. Do mesmo modo o “Fiat” (sim) de Maria ao
anjo Gabriel foi o embrião para que à vontade de Deus fosse feita nela gerando assim
Jesus (Lc 1,38). Se o evangelho inicia-se com “acolhida” entende-se que a
“acolhida” é o principio do Amor, é ela quem nos aproxima de Deus. Do mesmo
modo Simão Pedro e André acolheram a palavra de Jesus o seguindo imediatamente
largando suas redes (Mt 4, 18-22). O primeiro milagre de Jesus (bodas de Caná:
Jo 2, 1-12) foi um gesto de acolhida de Jesus ao pedido de sua mãe.
A “acolhida” na sua face
de amor também se aproxima do termo “misericórdia”
pois este tem sua origem no latim, surgido da junção de misero/miséria e cor/coração. A palavra misericórdia representa,
portanto, um sentimento de empatia, colocar a miséria do próximo no nosso
coração. A misericórdia se refere ao coração que se compadece e age. Acolher a
miséria do próximo no coração.
Fazem parte da acolhida três conceitos:
acolher a vontade de Deus, acolher a vontade do próximo e acolher os pecados do
próximo.
1.1
Acolher a vontade de Deus
Desde Adão, Deus tem um
propósito para cada ser vivo. Esse propósito é regido por Deus e envolve a
decisão de cada um. Do mesmo modo que Maria aceitou o plano de Deus para que
ela fosse à mãe de Jesus o Messias, Deus tem um plano para cada um e espera de
nós o nosso “Fiat” (sim). O problema é que não entendemos os planos divinos e
julgamos que somos responsáveis por nosso futuro. Essa atitude de revolta nos
afasta de Deus acarretando por conseqüência um monte de aborrecimentos, que
nada mais são do que a recusa aos planos de Deus. Daí Thiago nos diz: “Vocês não recebem, porque não pedem; e
vocês pedem, mas não recebem, porque pedem mal, com a intenção de gastarem em
seus prazeres” (Tg 4, 2-3). O homem ansioso por possuir bens pede se
esquecendo que Deus tem um desígnio para ele, e se o pedido do homem não está
dentro do desígnio divino, Deus não o atenderá, porque esse pedido é egoísta
que busca apenas a realização humana dentro dos esquemas de uma sociedade
idolátrica, que adora os deuses da riqueza e poder. O homem, consciente da sua
figura de “imagem e semelhança do amor”, sabe o que pedir e como pedir ao Deus
que está pronto a atendê-lo a favor da construção de uma sociedade comunitária
(que visa o bem comum).
Acolher a vontade de Deus,
também é abrir mão de si mesmo, para viver o plano divino. A história de Abraão
está ligada diretamente à história de toda a humanidade: com ele começa a
surgir o embrião de um povo que terá a missão de trazer a bênção de Deus para
todas as nações da terra. Deus teve um plano com Abraão, um plano que se
estendeu e foi muito além, porque Abraão o aceitou desde o início, sem recusa
alguma. Foi a partir de Abraão que nasceu um povo portador do projeto de Deus:
toda nação que se orientar por esse projeto estará refazendo no homem a imagem
e semelhança de Deus desfigurada pelo pecado. A diferença de Abraão foi que ele
acolheu o chamado divino e aceitou o
risco sem restrições. E qual foi à promessa de Deus a Abraão? Aquilo que
qualquer um no tempo de Abraão (vivendo como nômade) desejaria: terra para os rebanhos e filhos para cuidar deles. Em outras
palavras, o que Deus promete é exatamente aquilo a que o homem aspira para
responder às suas necessidades vitais. Entretanto, quais sãos as necessidades
vitais do homem no tempo de hoje? É somente se pensarmos de forma aberta
visando um bem coletivo, que essas necessidades virão aparecer, pois o amor se
manifesta no coletivo: na comunidade. Portanto, nossas necessidades vitais
estão relacionadas com aquilo que precisamos para viver melhor com os outros e
consigo mesmo, não aquilo que desejamos para vivermos melhores em nossas casas
trancados diante de muros altos e grades de proteção. Portanto, acolher a
vontade de Deus, também é assumir um compromisso com o próximo.
1.2
Acolher a vontade do próximo
A maior dificuldade humana
no “plano divino”, talvez esteja em reconhecer que existe um próximo e que esse
próximo também tem necessidades, tem vontades que para serem satisfeitas é
preciso que outro alguém abra mão da própria vontade. O próprio Cristo não veio
para satisfazer a própria vontade, mas para que se cumprisse à vontade do Pai: “não posso fazer nada por mim mesmo. Julgo
segundo o que ouço; e o meu julgamento é justo, porque não procuro a minha
vontade, mas a vontade daquele que me enviou (Jo 5, 30)”.
Reconhecer o próximo é a
primeira parte (Lc 10, 25-37). Ter a atitude do bom-samaritano é simplesmente
reconhecer que somos membros de uma só pátria: a celeste. A acolhida só se dará
se tivermos um “coração materno”, acolhendo todos como filhos, sem distinção.
Acolher também é ter sentimentos de solidariedade e fraternidade. Para que isso
ocorra é preciso que esses sentimentos estejam todos bem fixados em nossos
corações, de forma que nossas escolhas mediantes ao nosso próximo sejam medidas
com a solidariedade e a fraternidade. Para sustentar esses sentimentos temos a
segunda tábua da Lei. Os Dez Mandamentos não vieram para punir (ou condenar) os
crentes, Os Dez Mandamentos são as bases de conduta ética que indica o caminho
do amor ao próximo que é Jesus Cristo. “Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai se não por mim (Jo
14, 6).”
No início do século I d.C
até meados do século IV d.C, os primeiros cristãos passaram por grandes
perseguições. Muitos foram atirados aos leões, outros queimados, estrangulados,
enfim, houve muitos mártires. Mas por quê? Porque alguns haviam acolhido a
palavra de Jesus, outros não. Esse grande número que ainda não havia acolhido a
vontade de Deus, não percebia que faziam parte de uma mesma grande família em
Cristo, e por tanto, não estavam aptos a acolherem uma vida em comunhão com os cristãos.
Esse panorama mudou um pouco nos últimos séculos, e agora estamos caminhando
para mais perto do Reino dos Céus, entretanto, para que esse Reino venha a nós
definitivamente, é preciso também que renunciemos nosso orgulho e acolhamos os
pecados dos nossos irmãos.
1.3
Acolher os pecados
Na sua trajetória, Jesus
pregou um amor incondicional que se estende por mais de 20 séculos. Vemos
também, claramente nos evangelhos sinóticos, que por onde passou Jesus perdoou
e fez o bem. Ao contrário de seus contemporâneos, Jesus não se afastava dos
pecadores, pelo contrário, os procurava como assim afirmava: “Em verdade, não vim chamar os justos, mas
os pecadores” (Mt 9, 13). Jesus sabia exatamente que ao se aproximar dos
pecadores e dar-lhes uma nova chance, estaria os convidando à conversão. A
conversão cristã não poderia vir por meio de ameaças ou de temor, mas da
acolhida do pecador.
Para que a acolhida do
perdão tenha êxito, é preciso reconhecer duas condições, de que todos nós
pecamos, e de que todos nós necessitamos do perdão. Foi exatamente o que Jesus
ensinou no caso da mulher adúltera da qual Jesus livrou do apedrejamento (Jo 8,
1-11). A história de Jesus com a mulher adúltera é um exemplo de como Ele não
evita os pecadores, pelo contrário, antepõe-se para levá-los à conversão. Jesus
não lança à cara de ninguém a culpa cometida. Alivia o fardo daqueles cuja
falta os fez cair por terra para que voltassem a erguer-se. Não procura que os
culpados sejam condenados e punidos, mas que sejam remidos e revivam, não se
esquecendo nunca de que Deus os ama. Porque Deus os acolhendo, poderão assumir
humildemente a sua história e levar uma vida mais justa.
Assumindo nossa condição
humana de “imagem e semelhança de Deus”, temos também a obrigação de perdoar
nossos irmãos, não apenas apagando suas culpas, mas dando condições para que
eles recomecem. Foi o que ensinou Jesus na parábola do filho pródigo (Lc 15, 11
ss).
Acolher o pecado do
próximo é abrir mão do rancor, do orgulho e do sentimento de discórdia gerado
pelo pecado, é iniciar uma nova via de relacionamento capaz de recolocar o
pecador no seio da sociedade. É exatamente o que o pai fez na parábola do filho
pródigo ao dar ao filho que voltou a melhor roupa, anel e sandálias. No
entanto, essa atitude exige muito do homem que se choca com sua natureza
marcada pelo pecado, criando nele a mesma dúvida de Pedro: “quantas vezes devo
perdoar, se meu irmão pecar contra mim?” A resposta de Jesus “77x7” mostra a
infinidade na qual devemos perdoar. Essa medida infinita é a mesma medida do
“amor divino”, da “misericórdia infinita” de Deus para com os pecadores. Mas o perdão de nossos pecados, como afirma
Jesus, está condicionado a nós mesmo. A medida com qual Deus nos perdoa, é a
medida na qual perdoamos nossos irmãos. “Se
vós perdoardes aos outros as suas faltas, vosso pai que está nos céus também
vos perdoará. Mas, se não perdoardes aos homens, o Pai também não vos perdoará
as faltas.” (Mt 6, 14-15)
CONSIDERAÇÕES GERAIS:
ACOLHIDA
O mistério da Acolhida se
dá no princípio da abdicação. Durante toda a Bíblia, Deus nos mostrou como
devemos acolher ao próximo abdicando nossas vontades para acolher a Vontade
Divina e a Vontade do próximo, para que Deus viesse nos recobrir com sua
Glória. Abraão quando se encontrava na presença de Deus, ao ver se aproximar
três homens, largou tudo para acolhê-los dando-lhe não só o de comer, mas
também onde descansarem e especialmente a atenção. A solicitude de Abraão em
atender aos hóspedes (Gn 18, 3-8) põe em realce o valor da hospitalidade, tão
apreciada no Oriente e recomendada por Cristo (Mt 25,35; Rm 12,13). Deus
continua esperando de nós essa mesma hospitalidade. Muitos cristãos pensam que
vão agradar mais a Deus mostrando diante das visitas em sua casa que vão à
igreja, muitas vezes forçando-as a também irem, ou as expulsando para não
perderem àquela hora marcada na Igreja. Mas a Acolhida como gesto de “amor concreto” se dá em receber bem aqueles
que lhe vieram ver, dando a eles provas de seu amor, oferecendo não só o
tradicional café, mas principalmente a atenção para ouvir muitas vezes um
triste comentário dele, um lamento, ou dividir a alegria de uma boa notícia,
como um noivado, uma gestação ou outras tantas. A multidão que seguia Jesus não
o seguia simplesmente porque acreditavam nele, mas porque se sentiam acolhidas.
Jesus não excluía de seu meio os pecadores, ou os pagãos (que hoje podemos
considerar os cristãos afastados, ou confusos em meio há tanto “joio”). Pelo
contrário, semeava ali mesmo, por onde passava o amor e na sua forma mais
simples que era a da acolhida. Jesus não perdia uma oportunidade de pregar a
Boa-Nova (evangelho) aproveitando tantos os casamentos, como também aproveitava
os almoços com os pecadores. Opondo-se aos sacerdotes de seu tempo que excluía
os pecadores, ou os agredia com palavras de desprezo e condenação, Jesus
acolhia. Sua pregação inicia-se nos seus gestos. Por onde passava a multidão
corria e recorria a Ele, pois podiam confiar que nEle seriam acolhidas. Até
mesmo a João Batista Jesus se opôs, enquanto que João gritava “Raça de
Víboras”, Jesus chamava de “minhas ovelhas desgarradas”, ovelhas que Ele vinha
buscar. Jesus não expunha os pecados de ninguém, mas os acolhia perdoando, no
simples gesto de um abraço, e na autoridade de sua voz.
Durante sua vida, e até
com a sua ressurreição Jesus foi sempre a “imagem e semelhança do Amor”, pois
passou a vida acolhendo e acolhendo. Se quisermos ser “imagem e semelhança de
Deus”, busquemos primeiro imitar a Cristo que em sua vida foi “imagem e
semelhança da Acolhida”.
Perdão
CONCEITOS
GERAIS
Por muitos séculos,
principalmente no primórdio da Igreja, o Cristianismo era conhecido pela forma
que os cristãos se tratavam sempre se perdoando. Isso se deu primeiro pelo
próprio exemplo de Cristo que por onde passou perdoou os que lhe vinham. O
perdão de Cristo era um perdão que vinha do coração, um perdão misericordioso.
Por isso até hoje se clama pela misericórdia infinita de Deus.
O perdão é um processo
mental ou espiritual de cessar o
sentimento de ressentimento ou raiva
contra outra pessoa, decorrente de uma ofensa percebida, diferença ou erro, ou
cessar a exigência de castigo ou restituição. O perdão pode ser considerado
simplesmente em termos dos sentimentos da pessoa que perdoa, ou em termos do
relacionamento entre o que perdoa e a pessoa perdoada. É normalmente concedido
sem qualquer expectativa de compensação, e pode ocorrer sem que o perdoado tome
conhecimento (por exemplo, uma pessoa pode perdoar outra pessoa que está morta
ou que não se vê a muito tempo). Em outros casos, o perdão pode vir através da
oferta de alguma forma de desculpa ou restituição, ou mesmo um justo pedido de
perdão, dirigido ao ofendido, por acreditar que ele é capaz de perdoar.
O perdão é o esquecimento completo e absoluto das ofensas, vem do coração é
sincero, generoso e não fere o amor próprio do ofensor. Não impõe condições
humilhantes tampouco é motivado por orgulho ou ostentação. O verdadeiro perdão
se reconhece pelos atos e não pelas palavras.
A primeira atitude de Jesus sempre foi perdoar os que lhe vinham. Na cruz,
quando tudo estava para ser consumado, fez o mesmo pedindo ao Pai o perdão por
nossos pecados (Lc 23, 34). Essa atitude demonstra que o perdão não tem limite,
nem hora e nem local, mas deve ser dado o quanto antes, como afirmava Jesus: “faze depressas as pazes com teu adversário
enquanto estás a caminho com ele” (Mt 5, 25).
O perdão não pode ser entendido como unilateral, e nem
enxergado apenas como uma obrigação que temos com o próximo para agradar a
Deus. O verdadeiro perdão cria um elo perfeito entre Deus, você e seu irmão. O
perdão que Deus lhe dará está condicionado ao perdão que você dará ao seu
irmão:
“Perdoa-nos o mal que fizemos assim
como perdamos aos que nos fizeram mal” (Mt 6, 12).
O perdão é o gesto mais concreto do amor, pois exige do ofendido a
abdicação daquilo que considera como direito: negar o perdão ou exigir
“vingança” daquele que lhe fez mal. Este princípio de vingança conhecido também
como “Lei do Talião” ou “olho por olho, dente por dente” foi um
das primeiras discussões de Jesus Cristo. Jesus se opôs à ela demonstrando que
a melhor forma de romper o círculo da violência, da opressão e da injustiça é
responder ao mal com o bem (Rm
12, 14-21). Ao contrário da Lei do Talião (Ex 21, 23-25) que permitia responder
à violência com a violência, cuja finalidade era coibir arbitrariedades contra
os direitos humanos, Jesus inaugura um novo tempo, onde o Amor na sua forma de
Perdão é o único que consegue criar um ambiente de paz. Mas o perdão proposto
por Jesus não fica simplesmente na atitude de esquecer ou aceitar o mal do
outro, esse perdão é capaz de oferecer a outra face (Mt 5, 39), mesmo sabendo
que apanhará. Isso porque acredita na Justiça Divina, e sabe que seu julgamento
é meramente humano e egoísta. Daí se gera um novo paradoxo: separar Perdão,
Justiça e Vingança.
1.1 Perdão: Muito ama quem muito perdoa.
Enquanto que a Acolhida é
o gesto mais simples do Amor, o Perdão é o gesto concreto, porque não procura
seus interesses, “é paciente, bondoso,
não é invejoso, não é arrogante, nem orgulhoso” (1Cr 13, 4). Mas a principal condição do Perdão Face do
Amor, está em não “buscar seus
interesses, não se irritar, nem se julgar ofendido. Não se alegrar com a
injustiça, mas com a verdade” (1Cr 13, 5). Paulo ao recomendar a caridade
(o amor) diz que o Amor “tudo perdoa,
tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cr 13, 6). Assim, se amor tudo
perdoa, podemos concluir que o perdão é o próprio amor, um gesto concreto,
porque o perdão implica todas as condições anteriormente citadas.
Na Bíblia, o pecador é um
devedor a quem Deus, com seu perdão, perdoa a dívida de forma tão eficaz que
Ele já não vê o pecado, o qual é como que jogado para trás, tirado, expiado,
destruído. Aos olhos de Deus o pecador arrependido já não possui mais pecados,
aquilo que foi perdoado é apagado de sua vida. Para o cristão, o seu perdão
deve ser igual, como o de uma criança que ora briga, ora faz as pazes como se
nada houvesse acontecido. O erro mais comum do cristão é dizer que perdoou,
quando na verdade fica relembrando a falta perdoada. A exemplo de Cristo, o
cristão deve primeiro perdoar, pois o perdão é o princípio da conversão. Se
Jesus condenasse os pecadores de seu tempo sem perdoá-los, quem o teria
seguido?
O perdão se torna um gesto
mais concreto de Amor, quando buscamos através dele a reconciliação e uma
reaproximação com o pecador. Entre os próprios discípulos de Cristo estavam
Mateus (cobrador de imposto, considerado pecador) (Mt 9, 9) e Pedro que na
noite da Paixão o negou três vezes (Mt 26, 69-75). Além disso, Jesus perdoou
muitos pelo caminho, e muitos o seguiram. Para Jesus sua missão era perdoar,
afinal “Em verdade, não vim chamar os
justo, mas os pecadores”, afirmou Jesus sentado na mesa ao lado dos
detestados cobradores de impostos e pecadores (Mt 9, 13).
De fato, o perdão de Jesus
é infinito, assim como sua misericórdia, mas sua atitude era mais que o gesto
de amor: era um exemplo real de como é possível viver o perdão. Desta forma,
Jesus demonstrava que o perdão não é somente uma condição preliminar da vida
nova, é um dos seus elementos essenciais. Em Siracides, vemos o nexo que liga o
perdão dado pelo homem a seu semelhante com o perdão que ele pede a Deus: “Perdoa a teu próximo a suas faltas e então,
ao rezardes, teus pecados serão perdoados. Se um homem guarda raiva de outro,
como poderá pedir a Deus a cura? Se não tem compaixão de um homem seu
semelhante, como suplicará por suas próprias faltas? Se ele, que é carne,
guarda rancor, quem lhe perdoará os pecados?” (Sr 28, 2-5).
O mesmo nos ensinou Jesus
na parábola do devedor cruel (Mt 18, 23-35), onde o devedor suplica ao senhor o
perdão da dívida, após ser concedido, o devedor cobra daquele que lhe devia sem
lhe dar o perdão. É a mesma proposta da oração do pai-nosso: “perdoa os nossos pecados assim como nós
perdoamos a quem nos tem ofendido”.
Na questão do Perdão, não
se pode negar a importância do batismo, porque através do batismo o Cristão se
propõe a uma vida dedicada aos mistérios da fé, perdoado totalmente dos seus
pecados. João batista pregava o batismo da conversão espiritual manifestada por
atos concretos preparando o povo para a manifestação de Jesus Cristo. Partindo desse ponto, vemos o perdão de Deus
manifestado, permitindo ao fiel batizado não só a participação no Reino de
Deus, mas uma vida convertida, dentro dos propósitos divinos. O Perdão por nós
dado ao irmão pecador, tem o mesmo poder, pois ao invés de dividir, amplia as
diferenças, o perdão reconcilia, permitindo uma vida nova: a conversão.
1.2 A
Justiça de Deus é a prática do amor
A justiça do AT não é
apenas distributiva, que consiste em “dar a cada um o seu” ou cumprir os
deveres cívicos, mas inclui também a perfeição moral religiosa. Ser justo é não
cometer maldade, agir de acordo com a vontade de Deus.
O Novo Testamento
acrescenta o caráter de Deus ser o único a ter o poder de julgar, pois sendo
perfeito é perfeitamente justo. Assim, “como
poderia o homem ser justo diante de Deus?” (Jó 9,2) Assim, os atos humanos
por si só não são capazes de justificar o homem, nem sacrifício algum, visto
que Jesus morreu na cruz para que todos fossem salvos. A salvação dos homens,
portanto, é a graça de Deus concedida presentemente. O apóstolo Paulo dirá que
a justiça de Deus desce do céu e vem salvar os que nEle crêem (Rm 3,
21s;).
O que diferencia a justiça
do perdão é que a justiça procura ressarcir o dano causado por algum meio, seja
punindo o transgressor (pecador) com uma pena física ou moral. Essa atitude se
opõe claramente as atitudes de Cristo que afirmava não vir para julgar: “Vós julgas por critérios da carne; mas eu
não julgo ninguém” (Jo 8, 15). A atitude de Jesus é unicamente amar na sua
forma mais concreta que é o perdão. O homem, porém, sentindo-se injustiçado
procura satisfazer seu anseio pela “falsa justiça”, já que sua justiça é
meramente egoísta e visa apenas ressarcir a si mesmo. Esta se opõe ao modelo de
justiça proposto em Isaías cap. 58, versículos do 1 ao 11. Nesse trecho a
justiça é comparada ao jejum que agrada ao Senhor, um jejum que “rompe as
cadeias da injustiças, torna livre os oprimidos, reparte o pão com os famintos
e acolhe em casa os pobres sem abrigos sem desdenhar os semelhantes”. Em suma,
é uma justiça que visa o bem comum, diferente da justiça humana que procura
sempre satisfazer a si mesma.
Definitivamente, a justiça
de Deus não se pode reduzir ao exercício de um julgamento, ela é antes de tudo
misericordiosa fidelidade a uma vontade de salvação, criando no homem a justiça
que ela dele exige.
1.3
Vingar o mal com o bem
Vingança consiste na retaliação contra uma
pessoa ou grupo em resposta a algo que foi percebido ou sentido como
prejudicial. Embora muitos aspectos da vingança possam lembrar o conceito de
igualar as coisas, na verdade a vingança em geral tem um objetivo mais destrutivo
do que construtivo. Quem busca vingança deseja forçar o outro lado a passar
pelo que passou e/ou garantir que não seja capaz de repetir a ação nunca mais.
Nesse caso voltamos a Lei de Taliã(Exôdo 21:24) o que tentou limitar o dano
causado, igualando ao original, para evitar uma série de ações violentas
saíssem do controle. Nesse ponto em Romanos 12, 19 a vingança passa a ser de
Deus, pois ele não busca seus interesses, mas que o oprimido seja vingado. Daí
Pulo dizia: “não vos vingueis uns dos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira
de Deus, porque está ecsrito: A mim
pertence a vingança, eu é que darei a paga merecida, diz o Senhor”. Em
modos gerais, a vingança humana é uma forma de satisfazer o ego que ao invés de
sedar a violência através de suas práticas punitivas, a vingança gera muitas
vezes um sentimento controvérsio no ser punido. Veja o exemplo das
penitêncárias públicas que pretendem fazer com que o deliqüênte repense nas
suas atitudes diante do fato de ter sua liberdade detida. Entretanto, o efeito
que na maioria das vezes surte é um sentimento de “injustiça” diante da
sociedade e ele sai em busca de uma “nova vingança” a seu favor.
Por isso, Jesus Cristo insistia em
amar seus inimigos, pois o amor é o único capaz de apagar os sentimentos de vingança.
Desta forma “não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem” (Rm
12, 21).
CONSIDERAÇÕES
GERAIS: PERDÃO
Em suma, o perdão é a prática do
amor, pois através dele se instala a paz no mundo. A paz é o resultado de um
mundo mais tolerante que se opõe a prática da vingança.
Podemos também considerar que o
perdão é superior a prática da justiça e vingança humana, pois o perdão é
sempre divino, considerado que ele é Amor e que Deus é Amor. Além disso, A
justiça só tende a ser divina quando buscamos lutar pelos direitos do próximo
ao contrário da vingança que reclama a “justiça a seu próprio favor”.
Como já foi anteriormente dito,
“quem muito ama muito perdoa”, além disso, com o Evangelho, Jesus Cristo
instaura uma nova face do Perdão que é o “amor aos inimigos” única via capaz de
romper a opressão e a injustiça, pois com Amor “respondemos o bem com o
mal”.
COMUNHÃO
CONCEITOS GERAIS
Existe uma relação muito
interessante entre comum, comunhão e comungar. Esse conjunto de palavras pertencem
todos a um mesmo radical em latin Commun.
De modo geral, diz-se uma coisa que pertence ou é a própria a todos ou da
qual cada um pode participar: sala comum,
interesse comum. Que se faz em
conjunto, em reunião: obra comum,
refeição comum.
A idéia de comunhão atribuida a
celebração em memória da morte sacrificial e ressurreição de Jesus Cristo,
recebe o nome também de Eucaristía (do grego εὐχαριστία, cujo significado é "reconhecimento”, “ação de graças”).
Neste sentido tem-se a idéia de uma “refeição comum em ação de graças a
Jesus Cristo reconhecendo que se
sacrificou e ressuscitou para a Salvação dos homens”.
Pensar em Comunhão como gesto de
Amor, ou ainda, como o próprio Amor, é preciso partir da maior manifestação de
Amor que foi a Paixão de Cristo. Talvez por esse motivo a comunhão também se
relacione com “sacrificios”. Para que haja um perfeita comunhão entre os
cristãos é preciso que um e/ou todos, abdiquem alguns privlégios em favor de um
“bem comum”, isto é, sacrifiquem seus próprios interesses. Por isso afirma
Jesus que os seus devem tomar parte em seus sofrimentos para serem dignos dele
(Mc 8,34).
A união fraterna dos primeiros cristãos resulta da sua comum fé no Senhor Jesus, do seu desejo de juntos imitá-lo. Essa comunhão de fé entre eles realiza-se em
primeiro lugar na fração do pão, no enisno dos apóstolos e nas orações (At 2,
42). Sobretudo, a comunhão deles era plena pois tinham “um só coração e uma só
alma” (At 4,32), comungando não só da mesma fé, mas também de uma vida em
comum, pois “vendiam tudo e levavam o dinheiro” e “a distribuição era feita de
acordo com as necessidades de cada um” e por isso não havia necessitados entre
eles (At 4, 32-35).
A fração do pão por Jesus Cristo
como sendo seu Corpo e a distribuição do Vinho como seu Sangue, no contexto da
comunhão exprime a necessidade humana de uma comunhão com Deus. As refeições da
Antiga Aliança relatam uma refeição na qual eles acreditavam que Deus
participava. Jesus porém inaugura um novo culto onde “o seu corpo e seu sangue”
são a própria refeição estabelecendo assim uma comunhão entre todos os que
participam da mesma mesa. Portanto, participar da comunhão é partilhar de um só
pão (ou um só destino), é a manifestação do Reino de Deus, de justiça, cujo
todos podem participar desde que vivam a virtude de Partilhar.
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