28/12/2016

Capítulo 3 - A Semente

Capítulo 3 - A Semente

Ao contrário da maioria das plantas e árvores, a videira dificilmente é plantada através da semente, já que a enxertia é talvez a maneira mais segura e mais fácil de crescer uma videira. Apesar disso, é importante estudarmos a figura da semente, tão importante para o desenvolvimento da nossa fé. A semente se relaciona diretamente com o ato de semear. A semeadura é um processo cansativo, pois envolve muito esforço, investimento, trabalho ardo na terra e nenhum resultado aparente e imediato. O primeiro passo para uma grande colheita é uma terra trabalhada, arada e a semente plantada. O Pai que é o nosso Lavrador, já fez isso, Ele preparou nosso coração e lançou a semente como na Parábola do Semeador:
Mateus 13, 3-9
E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na. E outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Mas, vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a sessenta e outro a trinta. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
O próprio Jesus explicou aos discípulos o significado profundo dessa parábola:
Mateus 13, 18-23
Escutai vós, pois, a parábola do semeador. Ouvindo alguém a palavra do reino, e não a entendendo, vem o maligno, e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho. O que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria. Mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição, por causa da palavra, logo se ofende; E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera; Mas, o que foi semeado em boa terra é o que ouve e compreende a palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta.
Nesta parábola, Jesus cita dois pontos importantes para nós: a “semente” e o “terreno”. Como já vimos, o terreno é o nosso coração, já preparado por Deus para receber a semente que é  palavra de Deus. Assim, como Jesus explicou, a Palavra de Deus antes de tudo é vida. Pela Sua palavra o mundo com tudo o que há foi formado (Gn 1,3 – Deus disse...) Assim como a semente esconde a vida debaixo de uma casca, a palavra de Deus também guarda a vida. Nessa parábola percebemos que as sementes germinaram, ainda que em pedregulho ou espinhos. A semente germinou, pois a Palavra de Deus tem que germinar em nossa vida. Deus escolheu as melhores sementes, as reservou e decidiu o momento certo para plantar. Não importa quanto tempo você levou para ouvir a palavra de Deus, nunca é tarde para que ela comece a germinar, mas é preciso antes de tudo romper com a casca da incredulidade e crer, pois “quem ouve minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna(...)”, disse Jesus (João 5, 24). Esse romper com a incredulidade é o mesmo que acontece com a semente quando germina; o que há dentro dela racha a casca e nasce um ser novo, diferente do anterior, pois “fomos regenerados não de uma semente corruptível, mas pela Palavra de Deus, semente incorruptível, viva e eterna” (1 Pedro 12, 23).
                Quando a Palavra de Deus rompe a casca da incredulidade e começa a germinar em nosso coração, os nossos desejos já não são mais os mesmos, um desejo novo e profundo começa a se espalhar. Os desejos da carne “fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, divisões, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes” (Gálatas 5, 19-21) começam a ser substituídos por aquilo que se tornará o fruto do Espírito Santo “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gálatas 5, 22), pois a Palavra de Deus produzirá o fruto que lhe é próprio, isto é o fruto do Espírito Santo.
                Para que a semente continue crescendo e se torne uma grande árvore (Mateus 13, 32) alcançando o mais elevado desenvolvimento é necessário renunciar a tudo o que afasta nosso coração de Deus, isto é, as pedras da parábola (Mateus 13, 20-22). A medida que a semente cresce e germina, vamos substituindo o velho homem pelo novo homem (Colossenses 3, 10). Muita gente tem dificuldade em entender o que é o velho homem, e o que é o novo homem. O velho homem é como a figueira que só sabe produzir figo. Tudo o que o velho homem quer é mau aos olhos de Deus (Gêneses 8, 21). “Não há nenhum justo, não há sequer um só que tenha inteligência, um só que busque a Deus” (Romanos 3, 10-11). O ser humano sem Deus é extremamente mau, e vive totalmente em trevas, pois não há nada bom no ser humano que não tenha vindo de Deus, pois “todos pecaram, e todos estão privados da glória de Deus” (Romanos 3, 28).
                O fato de sermos pecadores não significa apenas que pecamos constantemente, mas que não fazemos nada além de pecar. Até que a Palavra de Deus germine em nós, temos um coração de pedra, um coração “odiador” de Deus e das coisas de Deus, um coração maligno, nascido no pecado e dado ao pecado. Enquanto a semente da videira não cresce em nós, somos apenas uma figueira e tudo o que fazemos não pode agradar a Deus, pois Ele nos quer produzindo uvas. A partir do momento em que a semente da Palavra germina em nós, é o próprio Cristo,  Verbo Vivo que desceu do céu (João 1, 14), o Germe Santo (Isaías 6,13) (em algumas traduções está como Semente Santa) que está germinando em nós e o Espírito Santo desperta em nós a consciência para o pecado. Ele nos convence do pecado, da justiça e do juízo de Deus (João 16,8). Inicia-se, portanto, uma batalha interior, onde o meu ser quer produzir uvas, mas tudo o que eu sei é produzir figos, pois “não faço o bem que eu quero, mas o mau que eu não quero. Se faço o que não quero, então não sou eu que quem age, mas o pecado que habita em mim” (Romanos   7, 19-20). Este é um momento muito crítico, pois até que a semente se estabeleça na terra e crie raízes, ela disputará espaço com o velho homem pecador, e mesmo depois com raízes grandes e fortes, enquanto não houver uma mudança uma total transformação , estaremos lutando constantemente contra a velha natureza (Efésios 2,3). A luta deve-se muito por conta de que Cristo “nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos” (Efésios 1,4), essa é a Graça de Deus que tem poder de nos justificar, isto é purificar-nos de nossos pecados e comunicar-nos a justiça de Deus feita em Jesus Cristo e pelo batismo.
                Pelo poder do Espírito Santo participamos da paixão de Cristo, morrendo para o pecado e da ressurreição, nascendo para uma vida nova; somos membros de seu corpo, que é a Igreja, os sarmentos enxertados na Videira que é Ele mesmo. Somos justificados por Cristo, pois a Semente da Palavra fecundou em nosso coração e a nossa natureza foi alterada, não por nossos merecimentos, mas pela Graça de Deus que nos faz participar da sua vida divina por meio da Videira que é Seu Filho Jesus Cristo. Não há méritos humanos, pois tudo o que é necessário para que a semente fecunde, também vem de Deus, “tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não voltem sem ter regado a terra, sem ter fecundado, e feito germinar as plantas” (Is 5,10).
                A chuva e a neve são fenômenos da natureza e por isso não dependem da vontade humana. Ambos são dons de Deus, porque só Dele dependem. Depois que nosso coração acolhe a Palavra de Deus, o próprio Filho, o Espírito Santo começa a agir transformando tudo ao redor. Ele é a providência Divina que vem ao encontro das nossas fraquezas para alimentar a nossa alma com tudo o que é necessário ao nosso crescimento espiritual. A Palavra de Deus é eficaz, pois vem para “irrigar” e “fecundar” a terra, fazê-la “germinar” e “alimentar” (Isaias  55,10). A Palavra de Deus não é algo decorativo ou para distrair os ouvidos humanos, como a música. A gratuidade da Palavra tem uma finalidade concreta, uma missão específica e não está desconexa de seu comportamento: vem para transformar, causar impacto positivo no coração das pessoas e transformar vidas. A comparação com a ação da água na terra seca é muito profunda. De fato, sem a água na terra, toda semente seca. Essa “água” que possibilita mudança é o Espírito Santo. Observamos neste texto, o contexto agrícola dos interlocutores do profeta; é por isso que ele fala da terra, da chuva, da neve e usa os verbos irrigar, fecundar, germinar e alimentar. Sem essa sequência de verbos, não há agricultura.
                Assim como há uma série de elementos importantes que possibilitam o desenvolvimento da lavoura em vista da produção abundante, da mesma forma acontece com o nosso coração. Muita gente já teve uma experiência com Jesus, acolheram a Palavra no coração, mas o Inimigo arrancou a Palavra do Coração, através de problemas maus resolvidos. Há pessoas que passaram por uma grande dificuldade, um problema que parecia irresolvível, buscaram a Deus, clamaram, mas Deus não agiu no tempo das pessoas, ou não era da vontade de Deus ter aquele problema resolvido da maneira que a pessoa desejava. O inimigo astuto vem e rouba a Palavra do coração da pessoa, levando aquela pessoa para outras religiões, outras crenças distintas, onde não há Salvação, pois a palavra de Deus não fecundará em seu coração, a pessoa não aceita a Graça Redentora de Cristo Jesus. Outras pessoas recebem com alegria a Palavra de Deus, começam a ir à Igreja, aprofundam-se na oração, numa vida de santidade, mas o coração está cheio de mágoas, dúvidas, e muitas coisas que impedem a Palavra de criar raízes e por isso abandonam a fé, virando as costas para a Salvação que só existe em Cristo Jesus. Um terceiro grupo de pessoas recebeu a presença de Jesus em seus corações, viu o desabrochar da fé, o crescimento forte das raízes fixando-se em Cristo. Houve uma mudança na vida da pessoa, ela abandonou velhos hábitos, mas há uma casca dura que precisa ser rompida, deixando o velho homem para trás. Como esse processo é doloroso, essas pessoas se cansam e desistem de lutar. Elas pensam que poderão continuar  compartilhando o velho homem com o novo homem, que ainda está despertando, vivendo como outrora “seguindo o modo de viver deste mundo” (Efésiso 2,2). Sem saber, essas  pessoas agem como adúlteros, pois “o amor ao mundo é abominado por Deus” e “todo aquele que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4,4). Por tanto, não há outra forma de crescer se não permitindo, através de um ato de confiança, que Deus germine sua palavra em nosso coração.    
                Confiar em Deus é larga-se em suas mãos. É depender totalmente dele, como um bebê que para se alimentar, se proteger do frio ou do calor, para dormir, trocar as fraldas, dar os primeiros passos, enfim, em todos os momentos os pais - principalmente a figura materna - está presente. Deus é nosso Pai, ele nos vê como eternos bebês, que dependem Dele, mas que lutam contra isso, querendo fazer as coisas a própria maneira. Deus sente prazer em nos ajudar, pois Ele nos conhece melhor do que nós mesmos nos conhecemos. Muitas vezes queremos fazer as coisas do nosso jeito, ou achamos que é pouca coisa para pedir a Deus, que podemos resolver sozinhos nossos problemas. A verdade, é que Deus se importa até com as menores das nossas ações, e aguarda a nossa oração. O nosso crescimento espiritual depende totalmente da estarmos incessantemente em oração, buscando colocar Deus em todas as nossas decisões.  É através de uma vida devocional, que demonstramos total dependência em Deus, quando por meio de nossas orações deixamos de lado o medo e o egoísmo, para experimentarmos a graça santificadora de Deus. A oração e a comunhão com o Espírito Santo ajudam a semente do Homem-Novo crescer mais forte, sendo capaz de romper não somente com a casca da incredulidade, mas com a terra que cobre a semente e não permitem visualizar o surgimento da planta que já foi germinada.
                Esse é o desejo de todo Lavrador, que a semente germine, e para isso Deus não negará esforços, pois para Ele nada é impossível, nada é penoso. A iniciativa divina precede, prepara e suscita a livre resposta do homem que se dá, somente, pela acolhida da Palavra de Deus.

PERMANECENDO na VIDEIRA
UM VERSÍCULO PARA MEMORIAR: Vós estais limpos por meio da palavra que tenho vos  anunciado. (João 15,3)
REFLEXÃO: Eu tenho ouvido a Palavra de Deus? Tenho lido a Bíblia e buscado mais conhecimento? Eu confio verdadeiramente em Deus? Eu dependo somente da sua graça, ou tento fazer tudo do meu jeito?
ORAÇÃO: Senhor Jesus Cristo, sei que a tua palavra é vida e alimento da minha alma. Desperta em meu coração, através da ação do teu Espírito Santo, o desejo de buscar cada vez mais a tua palavra, através da leitura da Bíblia. Ajuda-me a romper com a casca da incredulidade que me impede de aceitar as verdades Bíblicas. Sela os meu ouvidos para que estejam atentos apenas a tua voz, e não as mentiras de Satanás espalhadas no mundo através da televisão, ciência e falsas religiões que tentam negar a verdade de quem tu és: O meu único Senhor e Salvador. Arranca do meu coração todo o mal, tudo o pertencia o velho homem, pois em ti quero ser uma nova pessoa. Amém.
                EXERCÍCIO ESPIRITUAL: A terceira etapa no nosso desenvolvimento espiritual, é a busca pela dependência contínua de Deus. Esse ato não e natural humano, por isso deve ser praticado com esforço. Continuamente você deve se perguntar o que Deus quer de você, e uma vez que tenha conhecido a vontade de Deus, aceite-a e disponha-se a cumprir o que o Pai deseja. Essa etapa, mais que um momento de oração e reflexão, é uma etapa ativa, que depende do seu compromisso de vida que vai nos alinhar com a nossa missão mais adiante que é produzir frutos. Porém, ter consciência da necessidade de viver  a vontade de Deus não é fruto do mero esforço humano, mas é parte da obra de Deus agindo dentro de você. É o Pai que toma a iniciativa e nos chama, nos guiando para assumirmos a nossa missão.


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